Domingos Caldas Barbosa era filho de pai branco com mãe negra de Angola. Nasceu por volta de 1740 no Rio de Janeiro. Reconhecido pelo pai, pôde freqüentar os colégios jesuítas. Sua transferência para a colônia de Sacramento, no extremo sul do país, quando chegou à idade militar, foi motivada pelas queixas contra os versos satíricos que escrevia na escola. Em 1762, volta ao Rio e faz amizade entre os negros e mulatos tocadores de viola da vida boêmia. Ali, faziam “modas”, como eram conhecidas as cantigas populares na época. Suas frases curtas com versos de quatro ou sete sílabas e tendo o violão ou bandolim no acompanhamento, passam a ser tratadas de “modinhas”.
Em 1775, o trovador Caldas Barbosa vai a Lisboa. O tom direto e desenvolto com que se dirige às mulheres e a malícia dos seus versos surpreendem os europeus da corte de D. Maria I. O êxito de sua música na metrópole está ligado ao rompimento declarado com as formas antigas da canção. O quadro moral imposto pela inquisição àquelas elites as tornara carentes de expressões artísticas livres de preconceito. A Modinha recebeu um tratamento erudito dos europeus na primeira metade do século XIX. Retornou ao Brasil com nova roupagem, associada à ópera italiana. Somente com o advento da República é que a modinha recupera sua popularização e nacionalização: tornam-se comuns no Brasil republicano as serenatas à luz dos lampiões de rua. Domingos Caldas Barbosa foi o primeiro poeta e violeiro a projetar uma música tipicamente brasileira fora e dentro do nosso território.
Além da biografia de Caldas Barbosa (editora 34), cuja capa traz a reprodução de uma imagem do autor (acima), uma outra indicação de leitura é o “Pequena História da Música Popular” (há uma edição conjunta Vozes/Círculo do Livro). Ambos foram escritos por José Ramos Tinhorão.