O texto a seguir foi enviado, no ano de 2004, ao ICCA - Instituto Cultural Cravo Albin, tendo em vista a publicação do verbete da cantora potiguar Terezinha de Jesus. Na época, eu iniciava os estudos e a pesquisa acadêmica em torno de um projeto de mestrado encaminhado e aprovado pelo Programa de Pós-Graduação em História (História Cultural) da UnB - Universidade de Brasília, pesquisa que teve por objeto um determinado segmento da música popular realizada na década de 1970 por artistas nascidos na região Nordeste do Brasil. O conteúdo do texto foi publicado pouco tempo depois no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. (Confira: http://www.dicionariompb.com.br/terezinha-de-jesus ).
O vídeo em anexo foi extraído do Youtube:
(http://www.youtube.com/watch?v=wTBqROsaXAU&feature=player_detailpage)
Terezinha de Jesus por Magno Córdova
Terezinha
de Meneses Cruz nasceu em 3 de julho de 1951, em Florânia, cidade localizada a
cerca de duzentos quilômetros de Natal, na região conhecida como Sertão do
Seridó, estado do Rio Grande do Norte.
Na
infância, participou de corais em colégios onde estudou, na cidade de Currais
Novos (RN), vizinha à sua terra natal. Em 1970, já residindo na capital do
Estado, foi convidada por sua irmã – a cantora Odaíres – e pelo seu cunhado – o
cantor e compositor Mirabô – a participar do espetáculo intitulado Explo70,
realizado no Sesc da Cidade Alta, em Natal. A partir de então, passou a se
apresentar regularmente na cidade.
É
desse período inicial de sua formação artística a participação nos festivais de
música popular nordestina, comumente realizados em Natal, Recife e Salvador.
Com a música intitulada “Quero talvez uma nega”, co-autoria dos compositores
potiguares Ivanildo Cortez e Napoleão Veras, venceu uma das edições do
festival, em Natal e em Recife. Ainda no Rio Grande do Norte, integrou o Grupo
Opção, formado por Mirabô, Márcio Tarcino, Expedito, dentre outros. Após dois
anos de atuação pelo Nordeste, todos os componentes do “Opção” seguiram para o
Rio de Janeiro, destino comum de boa parte dos artistas brasileiros surgidos à
época.
O nome
artístico adotado por Terezinha até aquele momento era “Tiazinha”. Ao travar
contato com o ambiente musical fluminense, conheceu o compositor Abel Silva que
lhe sugeriu a adoção do nome com o qual se tornou conhecida do público. No Rio
de Janeiro, antes de lançar trabalho autoral, Terezinha de Jesus participou
como vocalista em espetáculos e gravações de artistas como Tim Maia, Trio
Esperança, Golden Boys
e Quarteto em Cy. Paralelamente, realizava shows para plateias cada vez maiores,
consolidando sua voz como das mais atraentes surgidas naquele momento na cena
musical popular brasileira.
Em janeiro de
1978 a Revista de Música trouxe uma relação de artistas revelados no ano
anterior. Terezinha de Jesus ganhou destaque como voz feminina juntamente com a
cearense Amelinha.
A primeira
gravação solo da cantora veio em 1978, no formato de compacto em vinil lançado
pela FUNARTE, dentro do Projeto Vitrine. Posteriormente, esse registro foi
incluído no CD homônimo àquele projeto (parceria FUNARTE/Atração Fonográfica CD
ATR 32053) onde também estão reunidas as primeiras gravações de Zizi Possi, Oswaldo
Montenegro, Cláudia Savaget e Mongol, além da participação de Grande Otelo.
Todas as músicas que Terezinha gravou para o Projeto Vitrine seriam aproveitadas
no repertório do seu LP de estréia.
No ano seguinte, portanto, através de um convite do
cearense Raimundo Fagner – então diretor artístico do selo Epic, da gravadora
CBS – gravou seu primeiro LP: Vento Nordeste. Nesse trabalho,
Terezinha contou com as participações especiais de Dominguinhos (nas faixas
“Fulô da Maravilha”, e “Aves Daninhas”) e Paulinho da Viola (em “Coração
Imprudente”), além do grupo Cantares (na faixa “Na Direção do Dia”).
Para apresentá-la ao público, vieram impressos na contra-capa do LP um texto de
Carlos Capinam e outro de Abel Silva dando boas vindas à sua incursão no mundo
do disco e da música popular brasileira.
Caso de Amor é o título do segundo
disco e também seu segundo trabalho consecutivo sob a direção de produção de
Ivair Vila Real.
O disco
seguinte – Pra Incendiar Seu Coração, de 1981 – foi produzido
pelo músico e compositor Sivuca. A canção que dá título ao disco, de autoria de
Moraes Moreira e Patinhas, pode ser considerada seu maior sucesso. Há nesse LP
o dueto de Terezinha com a participação especial de sua irmã Odaíres
interpretando “Prece ao Vento”, um clássico do cancioneiro popular brasileiro.
Sivuca aparece também dividindo os vocais com a cantora em “Eu vi o mar virar
sertão”.
Em 1982,
Terezinha gravou o LP Sotaque. Contou com a participação especial
do tecladista Mu, então integrante do grupo A Cor do Som (na música
“Papo de Anjo, Baba de Moça”). Também aqui, Sivuca foi responsável pela
produção. No mesmo ano de lançamento de Sotaque, Terezinha
participou do disco Notícias do Brasil, do grupo
pernambucano Quinteto Violado. Com o Quinteto Violado interpretou
a música “Canto Livre”, de Fernando Filizola.
Seu último
trabalho dessa primeira safra de contratos com a CBS – o LP Frágil Força,
de 1983 – teve a produção de Luiz Carlos Maluly.
Após a
gravação de Frágil Força - e não tendo renovado contrato com a
CBS - Terezinha ficou sem gravadora e passou por um longo período distante dos
estúdios.
Simultaneamente
ao lançamento de discos, Terezinha levou seu repertório ao público em palcos
espalhados pelo país, por diversas ocasiões. Cabe destacar aqui dois projetos
voltados para a divulgação da música popular brasileira, dos quais participou
ativamente e que foram muito importantes para a consolidação do seu nome na história
recente da música popular feita no Brasil. No Projeto Pixinguinha,
Terezinha de Jesus esteve presente em três edições: em 1979, dividiu o palco
com os cantores/compositores Moraes Moreira e Djavan, em espetáculos ocorridos
em algumas capitais do Sudeste e do Nordeste do país; em 1982 esteve ao lado da
instrumentista, cantora e arranjadora carioca Rosinha de Valença; na edição de
1991, realizou espetáculo com o cantor e compositor paulistano Carlos José e
com o Grupo Viva Voz, levando seu trabalho a cidades da região Sul do Brasil.
Pelo Projeto
Seis e Meia, Terezinha de Jesus apresentou-se em 1981 com o cantor
Biafra - na cidade do Rio de Janeiro - e com Elza Maria - em Recife. No ano
seguinte, na sala Sidney Miller da FUNARTE do Rio, Terezinha de Jesus reuniu-se
a Thereza Tinoco. Em 1983, foi a vez de se juntar ao grande compositor
maranhense João do Vale, no Teatro João Caetano, na capital Fluminense. Ainda
no Rio, em 1988, subiu ao palco com Marinês e Severo.
No ano de 1994, Terezinha voltou a residir em Natal.
Por duas vezes, na década de 90, marcou presença no palco do Teatro Alberto
Maranhão, daquela capital, dentro da programação do Seis e Meia: em
1996, com o cearense Belchior, e em 1997, com Dominguinhos. Naquele ano de 97,
a Sony compilou algumas faixas dos discos lançados até então e as reuniu em um
CD incluído na série 20 Super Sucessos.
Iniciado o
novo século, alguns indícios vieram apontar para uma retomada nas atividades
musicais da cantora norte-rio-grandense. Um sintoma dessa nova etapa pode ser
percebido com o reconhecimento da importância de seu trabalho pelos
organizadores do Prêmio Hangar, uma iniciativa que põe em relevo trajetórias de
artistas do Rio Grande do Norte: em 2003, Terezinha de Jesus recebeu o prêmio
pelo conjunto de sua obra. No mesmo ano, ela se apresentou com os cantores e
compositores Tunai e Dalto para o público de Natal, também dentro da
programação do Projeto Seis e Meia.
Repertório
gravado por Terezinha de Jesus:
(por ordem
cronológica dos discos lançados)
Projeto Vitrine – 1978 (Compacto).
1 - Vento
Nordeste (Sueli Costa e Abel Silva);*
2 – Cigano
(Raimundo Fagner);
3 - Não Posso
Crer (Mirabô e Capinam);
4 - Fulô da
Fuloresta (João Silva e Geraldo Nunes).
Vento Nordeste – 1979 (EPIC LP - 144.303)
Lado A
1 - Vento
Nordeste (Sueli Costa e Abel Silva);*
2 - Cigano
(Raimundo Fagner);*
3 - Curare
(Bororó);*
4 - Aves
Daninhas (Lupicínio Rodrigues);
5 - Fogo Fátuo
(Moraes Moreira e Chacal);
6 - Foi-se o
Tempo (Petrúcio Maia e Fausto Nilo).
Lado B
1 – Coração
Imprudente (Paulinho da Viola);*
2 – Não
Posso Crer (Mentira) (Mirabô e Capinam);
3 - Maresia
(Sueli Costa e Abel Silva);
4 – Na
Direção do Dia (Juka Filho, José Renato e Claudio Nucci);*
5 – Fulô da
Maravilha (Luis bandeira);*
6 – Fulô da
Fuloresta (João Silva e Geraldo Nunes).
Caso de amor – 1980 (EPIC LP - 144.411)
Lado A
1 – Tua
Sedução (Moraes Moreira e Fausto Nilo);*
2 – Caso de
Amor (Wilson Cachaça e Ronaldo Santos);
3 – Qui Nem
Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira);
4 –
Acalanto (Mirabô e Capinam);
5 – Cidade
Submersa (Paulinho da Viola);*
6 –
Agradecido (Manduka).
Lado B
1 – Alegria
e a Dor (Tesouro da Juventude) (Sueli Costa e Abel Silva);
2 – Pra
Ficar Me Esperando (Beto Fae e Paulo Roberto Barros);*
3 – Retrato
da vida (Elton Medeiros);
4 – Vida,
Vida (Anísio Silva);
5 – Dança (
Renato Alt e Luis Sérgio dos Santos);
6 – Asas
(Fagner e Abel Silva).
Pra Incendiar Seu Coração – 1981 (EPIC LP - 144.459)
Lado A
1 – Amizade
(Beto Marques);
2 – Quando
Chega o Verão (Dominguinhos e Abel Silva);*
3 – Flor do
Xaxado (Mirabô e Capinam);*
4 – Pra
Incendiar Seu Coração (Moraes Moreira e Patinhas);*
5 – Amar
Quem Eu Já Amei (João do Vale e Libório);
6 – Prece
ao Vento (Gilvan Chaves, Alcyr Pires Vermelho e Fernando Luiz).*
Lado B
1 – Coração
Cigano (José Renato e Juka Filho);*
2 – Por
Esse Amor (Ronald Pinheiro e Robertinho de Recife);
3 – Couraça
(Adler São Luiz);*
4 – Eu Vi o
Mar Virar Sertão (Sivuca e Cacaso);*
5 – Xote
Menina (Robertinho de Recife e Fausto Nilo);*
6 – Rio
Coração (Luis Sérgio).
Sotaque – 1982 (EPIC LP - 144.462)
Lado A
1 – Sotaque
(Sivuca e Ana Terra);
2 – Dom
Divino (Jurandy da Feira);
3 – Mares
Potiguares ( Mirabô e Capinam);
4 – Atrás
do Circo Voador (Aroldo, Levi e Abel Silva);
5 –
Fervendo de Amor (Ronald Pinheiro e Papa Kid);
6 – Nova
Ilusão (Pedro Caetano e Claudionor Cruz).*
Lado B
1 – Cidade
de Conde (Afonso Gadelha e Glorinha Gadelha);
2 – Éramos
Dois (Dominguinhos e Mariah Costa Penna);
3 – Papo de
Anjo, Baba de Moça (Mú e Guilherme Arantes);
4 –
Deslumbrante Moço (Theresa Tinoco);
5 –
Homenagem a São João (Pout-Pourri):
a) São
João na Roça (Luiz Gonzaga e Zé Dantas);
b) Brincadeira
na Fogueira (Antônio Barros);
c) Olha
Pr’o Céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes).
6 – Evocação nº1 (Nelson Ferreira).
Frágil Força – 1983 (EPIC LP - 144.469)
Lado A
1 –
Odalisca em Flor (Moraes Moreira e Waly Salomão);*
2 – Frágil
Força (Luiz Melodia e Ricardo Augusto);*
3 – Hora
Adora (Beti Niemeyer);
4 – Mar
Azul (Chico Guedes, Terezinha de Jesus e Babal);
5 – De
Mansinho (Enoch Domingos e Jotagê Campanholi);
6 – Baú de
Brinquedos (Abel Silva e Nonato Luiz).
Lado B
1 – Vento
Leste (Paulo Debétio e Waldir Luz);
2 – A
Paixão (Mirabô e capinam);
3 –
Bumerangue (Moraes Moreira e Abel Silva);
4 – Beijo na
Bochecha (Moacir Albuquerque e Tavinho Paes);
5 – Linda
Flor (Yayá) (Henrique Vogeler, Marques Porto e Luiz Peixoto).
- As músicas indicadas com asterisco (*) foram incluídas na coletânea “20 Super Sucessos – Terezinha de Jesus”, de 1997. (CD 470.246 Polydisc)
Referências e
Fontes Consultadas:
Endereços Eletrônicos:
Fontes Impressas:
- Acervo Funarte da Música Brasileira. In: A
História da música brasileira agora tem uma história: Acervo Funarte da Música
Brasileira (Catálogo). Ministério da Cultura – FUNARTE/Atração
Fonográfica. S/d.
- FILHO, Gilvandro. Bodas de Frevo – A História do
Quinteto Violado. Recife: cia Editora de Pernambuco (CEPE), 1998.
- JÚNIOR, Costa e HOMEM, Roberto. “Zona Sul – Entrevista Terezinha
de Jesus”. Jornal Zona Sul, Natal, outubro de 2003. p.04.
- RIBEIRO, Matias José. “Terezinha sabe bem o que cantar.
Falta saber bem como”.Revista Somtrês. Editora Três, Agosto de 1979. pp.83/4.
Fontes orais e escritas:
- Terezinha de Jesus. Depoimento prestado ao autor, em
abril de 2004, e informações enviadas via correio eletrônico, no mesmo período.
Brasília, maio de 2004.
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