Fui levado a conhecer Izaíra Silvino por intermédio da professora Mércia de
Vasconcelos Pinto, no contexto de levantamento de fontes para a realização de
minha pesquisa, então em andamento, no Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade de Brasília.
O ano? 2004.
Eu, aprovado com um projeto de pesquisa
naquela universidade, dentro de um campo da História Cultural: ali, na labuta da
História da Música realizada no Brasil.
O locus, desde o início, passava pelo
Nordeste, com uma referência clara no território e no tempo.
Uma rápida
verificação no disco do I Festival de Música Aqui no Canto, realizado em
Fortaleza em 1969, pode nos dá uma ideia da atuação artística do grupo que se
encaminhou para Brasília no início dos anos 70/fins dos 60.
Rodger Rogério está
presente naquele LP como intérprete da música “Fox-lore”, composição sua em
parceria com Dedé Evangelista, e como autor da canção “Esquina predileta”,
interpretada por Ray Miranda;
por sua vez, Dedé aparece novamente na canção
“Encabulado”, feita em parceria com o compositor e arquiteto Braguinha, interpretada pelo mesmo Ray Miranda;
Raimundo Fagner aparece no disco como
co-autor da música “Luzia do Algodão”, composta em parceria com o artista
plástico Marcos Francisco e gravada por Izaíra Silvino;
Mércia Pinto esteve na
organização do festival, responsabilizando-se pela transcrição para a partitura
das músicas inscritas.
Para a musicista Izaíra Silvino, primeira voz a
interpretar uma canção de Fagner em disco, a saída dessas pessoas de Fortaleza
para Brasília foi decisiva para que elas próprias tomassem consciência do
alcance e da qualidade dos seus trabalhos na área cultural.
Izaíra Silvino atuou como professora de música em todo estado do Ceará, mesmo morando em
Brasília, cidade que ela só adotou após passados trinta anos da experiência dos
companheiros. Bandolinista desde a infância em Iguatu, sua terra natal é
Baturité, também no estado do Ceará. Percorreu várias cidades do estado na
medida em que seu pai, militar, era transferido para novos encargos da
corporação.
Conheceu Antônio Carlos Belchior ainda em Sobral, na adolescência.
Chegou na capital do estado muito jovem. Em Fortaleza, passou a estudar violino
e a dar aulas de Educação Artística em escolas públicas, quando teve por aluno
Raimundo Fagner, que se tornou seu amigo.
Sempre esteve ligada aos movimentos
artístico-culturais do estado do Ceará.
Em sua avaliação, as duas grandes
lideranças dos movimentos culturais do Ceará na época se deslocaram para
Brasília e com isto atraíram muita gente de lá para a capital: Rodger Rogério e
Fausto Nilo eram, para ela, as pessoas que possuíam essa liderança legítima
reconhecidamente dentro da universidade, entre o poder público e na sociedade como um
todo.
Sua opinião sobre esse processo migratório do grupo que se dirigiu para
Brasília possui um elemento crítico que está no centro dos nossos interesses:
"Eu acredito que eles mesmos não acreditavam que isso era uma força. Que a arte
deles fosse de fato arte. Porque nós temos ainda uma cabeça muito colonizada. A
gente precisa que quem esteja fora reconheça que nós somos grandes pra poder
a gente dizer que é. Aí, eu acho que a vinda deles pra Brasília, essa cidade que
vinha gente de toda parte e que eles conseguiram ser eles mesmos e a arte deles
ser, também, junto desse povo todo, eles acreditaram: "Rapaz, isso aqui que a
gente ta fazendo é sério mesmo".
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