(por Magno Córdova)
O material a seguir foi organizado no ano de 2010 para a EMBRATUR - Empresa Brasileira de Turismo, junto à FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Mantém a estrutura das informações encaminhadas para a base de dados daquelas instituições naquele ano e constitui-se de fragmento de projeto envolvendo o mapeamento de destinos e produtos turísticos brasileiros realizados por diversos profissionais consultores. No caso, minha intervenção se deu no plano da consultoria em turismo cultural, responsável que fui por este e outros destinos/produtos de natureza semelhante em todo o território nacional.
Sua divulgação aqui foi motivada pelo contexto da convocatória para o movimento Acampamento Terra Livre, visando unificar as lutas e fortalecer o Brasil indígena, a ser realizado de 24 a 28 de abril de 2017, em Brasília.
Voltado para o setor turístico, o texto não possui elementos críticos que possam situar e nem pretende ser porta-voz do movimento que motivou sua publicação. No entanto, acredito que sua divulgação poderá introduzir alguma questão relativa às relações entre o Estado brasileiro e os povos indígenas e estimular o possível leitor a buscar novos elementos que possam situá-lo ao longo dos processos de luta e no âmbito do momento presente que se desenrola.
Em última análise, terá cumprido sua função se atender àqueles que simplesmente desconhecem o seu conteúdo ou que buscam o que é seu objetivo primordial: orientar o público dentro das categorias do turismo cultural.
Cultura Indígena no Xingu
Localiza-se
no norte do estado do Mato Grosso, a 530 km da capital Cuiabá. O centro de visitantes Leonardo Villas Boas fica às margens do rio
Tuatuari, no município de Feliz Natal.
Em relação à melhor época para visitação ao Parque, é considerado ideal o período de junho a agosto, que é o período de seca, embora seja
possível nos outros meses do ano. Durante o período seco aparecem pequenas
praias às margens dos rios.
O Posto
Leonardo Villas Bôas é um dos pontos mais movimentados do Xingu. Além de
receber visitantes e pesquisadores durante o ano inteiro, a unidade presta
atendimento médico, odontológico e abastece toda a região do Alto Xingu. O posto
atende a mais de oito etnias como Kuikuros, Kalapalos, Iaualapiti, Kamaiurá,
Waurá e Aweti.
(Imagem extraída do youtube)
O Parque Indígena do Xingu (PIX) foi
criado em 1961, por iniciativa de sertanistas liderados pelos irmãos
Villas-Bôas - Cláudio, Orlando e
Leonardo. Foi resultado de vários anos de trabalho e luta
política dos irmãos Villas Boas, ao lado de personalidades como Marechal
Rondon, Darcy Ribeiro, Noel Nutels, Café Filho e muitos outros. Sua criação teve por objetivo garantir a sobrevivência,
melhores condições de vida e a posse da terra à população indígena da região.
Como conseqüência, preservar sua cultura, seus hábitos e sua religião. Segundo Orlando Villas Bôas, “o governo brasileiro, ao criar o parque,
procurou cumprir dois importantes objetivos: constituir uma reserva natural
para a fauna, flora e, sobretudo, fazer chegar diretamente às tribos sua ação
protetora”. Atualmente, o parque tem cerca de 5 mil
habitantes de 15 etnias diferentes, reunidos em 30 aldeias. Entre as etnias encontram-se: Waurá, Kayabi, Ikpeng, Yudja, Trumai,
Suiá, Matipu, Nahukwa, Kamaiurás, Yawalapitis, Mehinakos, Kalapalos, Aweti,
Kuikuro.
Em seus 2,6 milhões de hectares, a
paisagem exibe uma grande biodiversidade. É uma região de transição ecológica:
das savanas e florestas semideciduais mais secas, ao sul, para a floresta
ombrófila amazônica, ao norte. Apresenta cerrados, campos, florestas de várzea,
florestas de terra firme e florestas em Terras Pretas Arqueológicas. As matas que cobrem a região não apresentam a mesma exuberância das
típicas florestas hileianas, em virtude do menor porte de suas árvores. No
entanto, se enquadram perfeitamente no típico cenário amazônico geral, dada a
sua densidade, preponderância da coloração verde escura e, sobretudo, pela
continuidade da formação florestal que se estende indefinidamente para todos os
lados.
O
clima alterna uma estação chuvosa, de novembro a abril - quando os rios enchem
e o peixe escasseia -, e um período de seca nos meses restantes, época da tartaruga
tracajá e das grandes cerimônias inter-aldeias. Ao sul do parque estão os
formadores do rio Xingu, que compõe uma bacia drenada pelos rios Von den Stein,
Jatobá, Ronuro, Batovi, Kurisevo e Kuluene. Este último é o principal formador
do Xingu, quando se encontra com o Batovi-Ronuro.
Pode-se dividir o parque em três partes, de
acordo com os povos que lá habitam: o norte, conhecido como Baixo Xingu; na
região central, o chamado Médio Xingu; e ao sul, o Alto Xingu. Os povos do sul
são muito semelhantes culturalmente e são atendidos pelo Posto Indígena
Leonardo Villas Bôas. No Médio Xingu ficam os Trumai, os Ikpeng e os Kaiabi,
atendidos pelo Posto Pavuru. Ao norte estão os Suyá, Yudjá e Kaiabi, atendidos
pelo Posto Diauarum. Cada posto apóia a logística de projetos e atividades
desenvolvidas no Parque, como educação e saúde, havendo em todos eles uma UBS
(Unidade Básica de Saúde) onde trabalham agentes indígenas de saúde e
funcionários da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), conveniada com a
Funasa.
O Xingu passou por diversas mudanças que coincidem
com a história da questão indígena nas últimas décadas. No início, a filosofia
aplicada pelos Villas Bôas visava proteger o índio do contato com a cultura dos
grandes centros urbanos. Com a saída de Orlando e Cláudio Villas Bôas da
direção do Parque, em 1973, este pensamento começou a mudar. O administrador
seguinte, Olímpio Serra, começou a contratação dos primeiros funcionários
indígenas da Funai, dando o primeiro passo para uma maior representação das
comunidades. Em 1982, o Xingu teve seu primeiro diretor índio, o cacique
Megaron, da tribo Kaiapó. Desde então, outros começaram a se preparar e assumir
diversos cargos dentro do Parque. Atualmente, eles detêm a maioria dos postos
administrativos, protegendo suas próprias fronteiras e prestando assistência à
comunidade.
Das etnias que habitam o parque muitas
estão em áreas mais preservadas do contato com o homem branco, no Alto Xingu,
terra de Aritana e do Quarup. 53 tribos ainda vivem
isoladas no meio da selva. Outras estão
mais próximas do branco, na busca de ações que melhorem realmente a qualidade
de vida das comunidades. São os grupos instalados nas redondezas dos postos
Diauarum e Pavuru, no Baixo e Médio Xingu.
Abaixo, vídeo com a música "Mito - Metumji Iarén", dos índios Suyá, do Mato Grosso do Norte, adaptada pela cantora e pesquisadora Marlui Miranda. Em 1995, Marlui gravou o disco ihu - Todos os sons, onde fez adaptações de repertório musical indígena brasileiro.
(Vídeo extraído de https://www.youtube.com/watch?v=kG7adWydLWw )
Atrativos Turísticos Específicos
O Pólo Xingu apresenta em seu roteiro
turístico uma das mais importantes reservas indígenas brasileiras. O Parque
Indígena Xingu está localizado no coração do Brasil, ao norte de Mato Grosso, na
divisa com o Pará. É uma região de transição entre o cerrado e a Floresta Amazônica.
O parque espalha-se por 27 mil km². Nesse ambiente está sediado o Xingu Refúgio
Amazônico, localizado a uma hora de barco da aldeia das tribos Waurá e
Trumai. Foi implantado fora do perímetro
do Parque Nacional do Xingu exclusivamente para atender a demanda turística.
Isso porque não é permitido entrar no parque. O empreendimento tem como foco
principal mesclar a cultura nativa com a riqueza do meio ambiente, o que o
torna uma alternativa para a prática do turismo cultural (étnico) e ecológico.
O lugar é dotado de uma piscina natural e construído no formato de uma aldeia. Possui
restaurante com vistas para o rio Von den Steinen. Através dos seus
responsáveis, é estabelecido contato direto com o artesanato e a cultura dos
povos da região. Também é possível integrar a aldeia, participando das
atividades que fazem parte do dia-a-dia das tribos, como pesca de arco e
flecha, produção de artesanato cerâmico, palha e preparação do sal de aguapé.
Além destas vivências, o visitante assiste a apresentações de danças e ouve
histórias e lendas do povo Xingu. Dessa forma, presencia o cotidiano indígena,
troca experiências e interage com a cultura e culinária local.
O Xingu Refúgio Amazônico foi projetado
para gerar alternativas de conservação dos ecossistemas naturais da borda oeste
do Parque Nacional Indígena do Xingu. Essa região recria os ambientes e a influência
da cultura indígena do Alto Xingu, como a encontrada pelo pesquisador alemão Von
den Steinen, em 1884. O nome do pesquisador passou a ser o nome de um importante
afluente da Bacia do Rio Xingu graças ao reconhecimento da relevância dos seus
trabalhos para a fixação da cultura dos povos da região.
O projeto da pousada teve início em 1996, através
de estudos realizados por técnicos especializados em ecologia e ecoturismo. Foi
inaugurado em 2000, ocupando uma área de 41 mil hectares, incluindo uma fazenda
com plantações de soja e arroz. Está localizado junto à borda do Rio Von den
Stein e ao lado da borda oeste do Parque Nacional do Xingu. Transformada em
Reserva Particular do Patrimônio Natural, conta com uma área de 19 mil hectares
no município de Feliz Natal, na vertente sul da bacia Amazônica. Os
responsáveis pelo projeto contam com a colaboração das tribos Waurá e Trumai.
A Pousada possui 7 quartos, para até 20
pessoas, área de camping, restaurante, piscina em forma de deck sobre o rio,
fornecendo hospedagem com pensão completa e equipamentos inclusos em todos os
passeios. Dentre as atividades sugeridas aos visitantes estão:
- percorrer a pé uma trilha com 2 mil
metros de extensão para conhecer uma praia de rio, ótima para banhos,
acompanhado por um indígena raizeiro (conhecedor da flora e fauna local).
Depois retornar à pousada de canoa ou barco;
- visitar a fazenda da qual a pousada
faz parte, conhecendo o lado rural da floresta amazônica;
- praticar canoagem entre os igarapés e
lagoas, podendo realizar pesca esportiva;
- fazer passeios a cavalo percorrendo
10km de trilhas;
- visitar um sistema de manejo florestal, e saber o que é um levantamento de senso. Conhecer a parte da propriedade que gera produção de madeira para venda, com selo verde, com controle. Verificar onde são determinadas as árvores escolhidas como reprodutoras, as que deverão ser cortadas e re-plantadas.
Na
primeira noite é realizada uma apresentação sobre a estrutura da pousada e
sobre a cultura indígena. Na manhã seguinte ocorre a visita à aldeia, com
permanência de um dia. Há a possibilidade de dormir uma noite na aldeia, em oca
equipada com redes para dormir. Podem ser realizados passeios percorrendo
trilhas com os índios, pescaria e focagem noturna de jacarés. Também à noite ocorre
a convivência no centro da aldeia, com fogueira, danças, pinturas corporais, relatos
de estórias e tradições orais da região.
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