(por Magno Córdova)
Nas eleições das “Diretas Já” para presidente da república no Brasil, em 1984, o Jornal da Tarde apresentou o que se considera a sua maior inovação em termos gráficos: na sua primeira página, anunciou a derrota do projeto das diretas oferecendo aos leitores apenas um retângulo preto, sem qualquer dizer, simbolizando o luto pela derrota.
Em
1973, o editor do Jornal do Brasil, Alberto Dines, impedido de noticiar a morte
de Salvador Allende, presidente socialista chileno deposto por uma junta
militar chefiada por Augusto Pinochet, apresentou a primeira página do jornal
sem manchetes e sem fotos. Com isso, ao mesmo tempo driblou a censura e
denunciou sua ação.
Entrevistado
sobre sua participação no momento do golpe dado pelos militares em 1964, o
general Olympio Mourão Filho declarou ter lido na manchete do jornal O Globo de 31 de março daquele ano que haveria se instalado um soviete na Marinha de
Guerra. Preocupado com a presença comunista no comando da corporação, decidiu
marchar com suas tropas e antecipar o golpe.
A
forma como a imprensa nos conta a História do país deve ser vista com cautela.
Qualquer que seja a tentativa de um órgão de comunicação no sentido de tornar
imparcial o acontecimento abordado, a informação dada trará em seu bojo as
preferências ideológicas de quem a fornece. Nesse sentido, a matéria
jornalística representa um documento muito útil para a identificação das
correntes de pensamento dominantes entre os órgãos formadores de opinião em um
determinado momento histórico.
Há um pequeno livro, paradidático, que pode servir como uma boa iniciação sobre o papel dos órgãos
de imprensa no país. Seu título é “Imprensa e História do Brasil”, de Maria
Helena Rolim Capelato. Foi publicado pela primeira vez em 1988, pela Editora Contexto. Encontra-se disponível em pdf no endereço: https://pt.scribd.com/doc/317069631/CAPELATO-Maria-Helena-Rolim-Imprensa-e-Historia-do-Brasil-Editora-Contexto-Sao-Paulo-1988-1-pdf
Abaixo, uma canção que joga luz sobre uma outra dimensão, inusitada (?) acerca dos usos dados ao jornal (vídeo com o áudio da música logo após o texto com a letra). No caso, o jornal utilizado por um migrante na São Paulo de meados do século XX. "Meu enxoval" é um coco de autoria de Gordurinha e José Gomes. Foi gravada por Jackson do Pandeiro em 1958.
Eu fui para São Paulo procurar trabalho
E não me dei com o frio
Tive que voltar outra vez para o Rio
Pois aqui no Distrito Federá
O calor é de lascar
E veja o meu azar:
Comprei o "Jornal do Brasil"
Emprego tinha mais de mil
E eu não arranjei um só...
Telegrafei para a vovó
Ela tem uma bodega em Recife, Pernambuco
Eu disse pra ela que estou quase maluco
E que não tenho nem onde morar, o quê que há?
Estou dormindo ao relento, valei-me nossa Senhora!
O meu travesseiro é um "Diário da Noite"
E o resto do corpo fica na "Última Hora".
Mas se eu voltar, aquela turma lá do Norte me arrasa
Principalmente o povo lá de casa
Que vai perguntar por que é que eu fui embora.
Por isso eu vou ficando
Dormindo aqui na porta do Municipal
Com quatro mil-réis eu compro o enxoval:
"Diário da Noite" e a "Última Hora".
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