domingo, 2 de outubro de 2016

História de BH em pílulas I - Processo de urbanização

(por Magno Córdova)



A zona urbana de Belo Horizonte é composta de um traçado ortogonal de ruas e avenidas separadas da zona suburbana pela antiga avenida 17 de Dezembro, atual Contorno. O modelo inicialmente concebido pelos construtores da cidade incluía uma terceira área que seria a zona rural, onde se localizavam as colônias agrícolas, e que se constituiria em um “cinturão verde”. A ocupação dessas áreas não se deu de acordo com o previsto pelos idealizadores do modelo habitacional. A zona urbana teve boa parte de seus terrenos postos em leilão para que a seleção de proprietários se desse por um critério de renda. 

O que se verificou foi que, já no ano de 1902, viviam cerca de duas mil pessoas em favelas no interior da área da Contorno, principalmente nas regiões do entorno da avenida Amazonas, antiga Barroca, atual Barro Preto, local então destinado para o Jardim Zoológico municipal. Em algumas dessas áreas apareceram Vilas Operárias, locais habitados por aqueles que comprovavam bom comportamento e educação sanitária. 

A previsão de que a ocupação se daria do centro para as regiões periféricas foi subvertida, conforme atestam os dados do censo realizado em 1912: dos 39 mil habitantes moradores da cidade naquele ano, quase 70% residiam nas áreas suburbanas e na zona rural. Ou seja, cerca de 27 mil pessoas já haviam se estabelecido fora do espaço da avenida do Contorno. A área interna a essa avenida foi projetada para receber uma população de 30 mil pessoas e contava com apenas 12 mil habitantes naquela época. Nas décadas de 1930 e 1940, a cidade conheceu um período de extraordinário desenvolvimento urbano, em especial fora da Avenida do Contorno, que iria se refletir nas décadas posteriores. 

Em trinta anos, a população da cidade saltou dos 211 mil habitantes de 1940, para 1 milhão 255 mil habitantes em 1970. Mais da metade dessa população não era nascida na cidade, sendo grande parte dela originária das áreas rurais de todo o estado de Minas.

Abaixo, uma bela canção que faz menção a Santa Tereza, bairro de Belo Horizonte que ganhou status de importante território musical da cidade, particularmente a partir dos anos 70. Foi nesse bairro que se consolidaram as parcerias e encontros musicais do Clube da Esquina. O contexto era, portanto, o da Esquina, nome que alude explicitamente à importância desse elemento urbano no cotidiano da cidade, caracterizando-a.

Os compositores da canção são Tavinho Moura e Murilo Antunes. E o registro aqui tomado é o que se consolidou na própria cidade, impregnando seu imaginário. O intérprete é Beto Guedes e ela faz parte de seu álbum intitulado Contos da lua vaga, lançado em 1981.

A pedalar
Camisa aberta no peito
Passeio macio 
Levo na bicicleta
O meu tesouro da juventude
Passo roubando fruta de feira
Passo a puxar meu estilingue
Vai pedra certeira no poste
Passa um veterano
E já cansado
Herói de guerra
Grito: Lá vem a bomba!
E meu tesouro me leva
Pelas ruas de Santa Teresa
A pedalar
Encontro amigo do peito
Sentado na esquina
Pula, pega garupa
Segura o bonde ladeira acima
Ganha o meu tesouro da juventude
Ainda que a cidade anoiteça
Ou desapareça
Piso no pedal do sonho
E a vida ganha mais alegria
Ganha o meu tesouro da juventude
Que foi em Pedra Azul
E em toda parte
Onde tive o que sou



Uma indicação para leitura é o texto “Habitação e produção do espaço em Belo Horizonte”, de Heloísa Soares de Moura. Presente no livro Belo Horizonte: espaços e tempos em construção, organizado por Roberto Luis de Melo Monte-Mór. Publicação do CEDEPLAR – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional e Prefeitura de Belo Horizonte.

Outro texto sugerido, relativo à produção musical do Clube da Esquina e sua relação com o espaço da cidade, foi publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro e pode ser acessado através do endereço http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/RAPM07A122008_Acancaoamiganasruasdacidade.pdf . Seu autor é o histoiador Bruno Viveiro Martins. 

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