(Texto/resenha originalmente escrito como piloto de programa de rádio educativa).
(por Magno Córdova)
(por Magno Córdova)
Na abertura do
seu livro intitulado “História e Música”, o professor e pesquisador paulista Marcos
Napolitano afirma que há um lugar privilegiado para se pensar a história
sociocultural do país. Neste lugar, seria possível encontrar a tradução
dos dilemas e a veiculação das utopias sociais que formam o nosso mosaico
nacional: trata-se da música popular realizada no Brasil.
Para
Napolitano, ser brasileiro e falar português representa uma vantagem em relação
às outras nações quando o assunto é música popular, já que somos – sem nenhuma
dúvida – uma das grandes usinas sonoras do planeta. Assim, o privilégio está
não só em ouvir música, mas também pensar a música. E não
apenas pensar a música brasileira, mas pensar e repensar o mapa
mundi da música ocidental a partir desse mosaico que compõe a nossa música
popular.
Ao
longo do livro, Napolitano oferece análises que justificam esta sua primeira e
essencial afirmação, mostrando como se constituiu ao longo da experiência
histórica brasileira uma determinada forma musical; e de que maneira esta forma
musical se configurou como um campo de estudos na atualidade. O autor mostra,
portanto, que a música popular feita no Brasil pode e deve ser tomada como
objeto para se pensar a sociedade e a história do país.
Um
dos pontos centrais da reflexão de Napolitano diz respeito ao problema de como
se processa a recepção da informação cultural, neste caso, de como os ouvintes
de música popular recebem e se apropriam das informações transmitidas pela
música. Segundo ele, devemos considerar que todos os ouvintes são receptores:
tanto os chamados “ouvintes comuns” (que ele chama de receptor-fruidor), como
os compositores e músicos profissionais (chamados receptores-criadores).
Napolitano
sugere que seja feita a revisão de uma certa imagem - tornada clássica - sobre
a esfera da música popular, onde normalmente estes dois blocos de receptores são
tratados isoladamente. Para ele, “mesmo sem conhecimento técnico, o ouvinte da
música popular possui dispositivos para dialogar com a música”. Ele não é
componente de uma massa de teleguiados, de um bloco coeso, de um agrupamento
caótico de indivíduos irredutíveis em seu gosto e sensibilidade. Por sua vez, o
compositor ou músico profissional é, em certa medida, um ouvinte, e sua “escuta
musical” é fundamental pra sua própria criação.
O
exemplo que Napolitano toma para ilustrar sua análise é o de Elis Regina. Quando
apareceu para o grande público com sua voz expressiva e potente, por volta de
1965, Elis causou um certo mal-estar nos círculos bossanovistas mais radicais. Revelando
um outro leque de escutas pessoais (a influência do bolero dos anos 50, por
exemplo), como também o dado de seu surgimento vinculado a uma mídia específica
(a TV) e, ao mesmo tempo, reivindicando
para si a tradição da bossa, Elis abalou a estrutura de audiência de música
popular no Brasil. Ela ampliou o público da música popular ao incorporar novos
segmentos socioculturais cujo gosto não havia sofrido, de maneira mais
profunda, o impacto da bossa nova. Elis trouxe para a audiência, ou para a
estrutura de recepção da música brasileira “moderna”, um
público mais ligado ao rádio e ao samba-canção.
Deste
processo teria surgido, ainda segundo Marcos Napolitano, a moderna MPB, que em
fins dos anos 60 tornou-se uma verdadeira instituição cultural brasileira.
Elis canta “Reza”, de Edu Lobo e
Ruy Guerra, faixa que abre o disco “Samba – eu canto assim”, de 1965 ( vídeo extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=GK1kJTzatdM).
Por amor andei, já
Tanto chão e mar
Senhor,
Já nem sei
Se o amor não é mais
Bastante pra vencer
Eu já sei o que vou fazer
Meu Senhor uma oração
Vou cantar pra ver se vai valer
Laia ladaia sabatana Ave Maria
Laia ladaia sabatana Ave Maria
Ó meu santo defensor
Traga o meu amor
Laia ladaia sabatana Ave Maria
Laia ladaia sabatana Ave Maria
Se é fraca a oração
Mil vezes cantarei
Laia ladaia sabatana Ave Maria
Laia ladaia sabatana Ave Maria
Livro de referência:
História e música – história cultural da música popular /
Marcos Napolitano. – Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
120 p. (Coleção História e... Reflexões, 2)
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