sábado, 23 de dezembro de 2017

Magno Córdova - Candidatura à Câmara de Fomento à Cultura Municipal de Belo Horizonte

(por Magno Córdova)
Queridxs amigxs,
acabo de efetivar minha inscrição como candidato na eleição dos membros representantes do setor cultural para composição da Câmara de Fomento à Cultura Municipal - CFCM, da cidade de Belo Horizonte, com atuação prevista para o biênio 2018-2019, no setor de Música.
Dentre os procedimentos exigidos e sugeridos no processo de inscrição, sugere-se que o candidato faça um breve vídeo apresentando sua candidatura. Deixo o vídeo por mim produzido para que vocês tomem conhecimento do mesmo.
Os eleitores são os profissionais ligados a cada setor, no caso de minha candidatura, o setor de Música.
Aos amigos músicos que forem participar do processo eleitoral, peço que considerem minha candidatura com muita responsabilidade. E àqueles amigos que não são do setor, mas que conheçam pessoas a ele associadas, que possam legitimar minha candidatura, sugerindo meu nome, seja através da disseminação do vídeo aqui apresentado, seja no "boca a boca", que é sempre um recurso muito eficaz.
Conto, portanto, com o apoio de todos!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Iexu é forallzeiro e fala cariri.

(por Magno Córdova)


Lembrar Gonzaga pelo 13 de dezembro só reforça a quebra da ideia de música sazonal atribuída precipitadamente ao seu trabalho.
Dessa data pra diante, a sanfona não deveria parar de tocar. Entrar natal adentro, encerrando um ciclo, dando boas-vindas ao próximo.
Basta dizer que o nome de Exu, cidade onde nasceu Gonzaga:
- de imediato, nos remete ao orixá banto, por mais improvável que seja essa vinculação de origem;
- especula-se que é a forma aportuguesada da designação dada a povos indígenas locais, os Ançu dos Kiriri;
- fala-se da possibilidade desse nome ser a tradução gráfica da palavra hebraica Ieshu, da língua dos marranos, descendentes de judeus que por lá se fixaram. Ieshu é Jesus.
Daí:
A neve, que aqui não há, dá lugar à fogueira e ao balão.
São João, o batista, como bom padrinho, vem visitar o afilhado, abençoá-lo.
Afinal, Baltazar, um dos três reis magos, não é tido por rei do Congo? Não foi o Reino do Congo constituído pelos bantos?
E, pra completar, dizem que na região da cidade onde nasceu o mestre era muito comum, à época de sua fundação, enxames de vespas, de abelhas, enxu (inxu), que teriam inspirado o nome do lugar.
Então, é marimbondo!
Viva Gonzaga!

Marimbondo (José Marcolino e Luiz Gonzaga)

Um marimbondo vindo peneirando a asa pra entrá em nossa casa,
chega chuva no sertão.
Nós matá a fome da muié e nosso fio,
dança coco e aça mio na fogueira de São João.
Setembro vem aí, tem safra de algodão.
Setembro vem aí, tem safra de algodão.(bis)
Pelo São João é tudo ao redor da fogueira,
uma morena faceira fala com toda atenção.
Ó seu Mané você vai ser meu compadre,
e eu vou ser sua comadre em louvor a São João.
São João dormiu, São João acordou.
Vamos ser compadres que São João mandou.
São João dormiu, São João acordou.
Vamos ser compadres que São João mandou.(bis)


(vídeo extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=PkP2HUrm_eg)

sábado, 28 de outubro de 2017

Irmão de chão

(por Magno Córdova)


Ouvir o disco Equatorial, da Téti, que é de 79, me faz crer em vidas paralelas, simultâneas, esses delírios de outros planos.
É como se eu tivesse vida em Fortaleza ou outro canto (Aqui no Canto) do Ceará, durante aquele tempo. 

Ao mesmo tempo em que crescia e adolescia nos clubes de esquinas santaterezinas e efigênias paradisíacas de montanhas e Jequitinhonhas em Minas.
Acontece disso se dá, também, por outras paragens: na Paraíba, então, da época..., virgem Maria! Nem me fale! De Jaguaribe à Ponta do Seixas, já fui até vizinho de Chico César em Catolé, dançando o Papangu.
O trem, tem hora, parece até que é tríplice! Vou me desdobrando lá e cá, aqui, ali, acolá (pra lembrar que há o Ímã).
Pois, tem sido o Equatorial o que me deixa a impressão de ser irmão de chão dos de lá.

(Abaixo, letra e vídeo com a música "Barco de cristal", de autoria de Rodger Rogério, Clodo Ferreira e Fausto Nilo, interpretada por Téti, presente no disco Equatorial).

Eu vi chegar do alto-mar um barco de cristal
Trazendo na bandeira a estrela matinal

A negra noite clareou
Na luz do teu olhar
E nós vamos sair, vamos encontrar

Gente pelas ruas num riso só
Cantado a alegria do barco de cristal

Mas foi um sonho, ainda é noite
Uma alucinação
Não nem luz d'teu olhar
Nem mesmo essa canção


(Vídeo extraído de https://www.youtube.com/watch?v=K_v4Tt-NpXU )


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

VIVA LUIZ MELODIA!

(por Magno Córdova)


O Programa Aldeia Do MUNDO, transmitido pela Rádio Inconfidência FM de Belo Horizonte, presta sua homenagem ao compositor Luiz Melodia com a reprodução de um trecho de minha dissertação de mestrado, defendida em 2006 na UnB.
Foram mantidas as normas da ABNT, conforme texto original, com as notas indicadas ao final do fragmento do texto da canção em foco. Canção apresentada em vídeo anexo.
"O festival Abertura ocorreu nos dois primeiros meses de 1975, no Teatro Municipal de São Paulo, realizado pela Rede Globo de Televisão. Esse concurso pode ser considerado o primeiro acontecimento musical, posterior à fase áurea desses eventos, que mobilizou nacionalmente platéias de telespectadores em torno de um encontro dessa natureza. Do ponto de vista da crítica, de parte do público e de alguns artistas – principalmente aqueles vindos da época de ouro dos festivais -, este teve uma importância menor para a história da música popular brasileira(1). Entretanto, o que nos interessa é justamente tentar rever, pela apreciação de alguns episódios ocorridos naquele festival, sentidos possíveis que ultrapassam essa compreensão e esse seu significado comum. Chamando atenção, é claro, para o fato de que a almejada plausibilidade da avaliação que se segue talvez tenha se descortinado pelo distanciamento temporal do olhar relativamente ao acontecido, o que não a legitima como mais nem menos verdadeira.
Chama atenção naquele concurso justamente o que ele representou de re-configuração de códigos ligados à formação imaginária de alguns espaços consolidados do território nacional a partir do cancioneiro popular, em sua visibilidade e dizibilidade. Por mais que alguns processos musicais populares de alteração no imaginário coletivo aqui apontadas já viessem se esboçando desde princípios da década, através, inclusive, do surgimento de alguns desses artistas mencionados, é possível que tenha sido a partir desse festival que seu alcance foi dimensionado em escala de maior abrangência. E não há dúvida que isso se deveu, em grande parte, pela mediação televisiva. Tomemos como exemplo um referente externo ao eixo central deste trabalho – que, no entanto, é essencial para a compreensão de sentidos presentes nas representações hegemônicas de um topo significativo da nação, a partir da música popular – para que se vislumbre a dimensão do que está sendo dito.
Quando o compositor Luiz Melodia subiu ao palco do Abertura para cantar “Ébano”, uma das questões postas pela sua presença foi a da pertinência dos códigos que associavam tradicionalmente a favela ao samba. Melodia nasceu e foi criado no Morro de São Carlos, no Bairro de Estácio de Sá, do Rio de Janeiro. Como se sabe, foi no Estácio que surgiu a primeira Escola de Samba com essa designação, em fins da década de 1920: a “Deixa falar”. Um dos seus criadores foi o compositor Ismael Silva que, junto com Nilton Bastos, Heitor dos Prazeres, Bide e Armando Marçal, era componente do que ficou conhecido como “Os Bambas do Estácio”. A expressão “Bambambã”(2), para designar o sujeito influente, valente e de muita habilidade pra compor sambas, surge desse contexto. Além do mais, os sambas do Estácio, para alguns analistas(3), inauguram uma fase “moderna” do gênero, em contraposição ao samba amaxixado(4), até então em voga, representado por músicos e compositores como Donga, Pixinguinha, Sinhô, Caninha(5) e outros.
A canção “Ébano” trouxe elementos claramente herdados do Jazz para o palco do Municipal de São Paulo, em 1975. A recorrência de elementos musicais “exógenos” (jazz, reggae, salsa, blues) na trajetória artística de Luiz Melodia, convivendo simultaneamente com um repertório de choros e sambas-canções, o tornou alvo de críticas por parte de uma vertente guardiã das tradições do samba e do morro. A persistência da crítica motivou uma resposta musical irônica da parte do artista algum tempo depois: Melodia juntou-se ao parceiro Ricardo Augusto e, no início da década seguinte, gravou um samba marcado por uma rítmica funk e uma instrumentação jazzística onde se defendia das denúncias de estrangeirismo:
Disseram no jornal televisão/ Que eu não gosto mais de samba/ samba/ Jornal televisão está no ar/ Mas eu sou bamba/ bamba/ A lógica se mostra, deixa estar/ A luz do sol, a cor do mar não se fabrica/ Em minhas veias corre sangue a batucar..."(6)
(1) Escrevendo sobre Luiz Melodia, em 1976, o jornalista Tárik de Souza assim qualificou o festival: “No aguado festival ABERTURA, dois anos atrás (sic), Melodia que ficara restrito a algumas situações isoladas, apesar do sucesso inicial, reaparecia” (grifo meu). Cf. “Luiz Melodia”, in SOUZA, Tárik e ANDREATO, Elifas. Rostos e gostos da música popular brasileira. Porto Alegre: L & PM Editores Ltda., 1979. O texto sobre Melodia assinado por Tárik de Souza foi originalmente publicado no Jornal do Brasil do dia 18 de abril de 1976
(2) A verificação etimológica desses termos aponta para os primórdios das discussões acerca da noção de malandragem na história da música popular brasileira. Confira História do Samba, São Paulo/Rio de Janeiro: Editora Globo, 1997. Fascículo 4.
(3) Como, por exemplo, Sérgio Cabral e José Ramos Tinhorão. Cf. PEREIRA, Arley. “No Estácio, da Deixa Falar, o samba aprendeu a sambar”. In: História do Samba. Id., pp.70/4.
(4) O samba amaxixado, como o próprio adjetivo indica, é aquele ainda marcado pela predominância de elementos constitutivos do maxixe, em especial os relativos às células rítmicas e melódicas. José Ramos Tinhorão nos informa que o maxixe apareceu no Brasil por volta de 1870, como dança. Segundo ele, “foi a primeira grande contribuição das camadas populares do Rio de Janeiro à música do Brasil. Nascido da maneira livre de dançar os gêneros de música em voga na época – principalmente a polca, a schottisch e a mazurca –, o maxixe resultou do esforço dos músicos de choro em adaptar os ritmos das músicas à tendência aos volteios e requebros de corpo com que mestiços, negros e brancos do povo teimavam em complicar os passos das danças de salão”. Esta longa citação em nota apenas se justifica na medida em que confronta, ao contexto dos anos de 1970, uma evidência acerca da presença estrangeira na formação de um gênero coreográfico e musical brasileiro, cem anos antes dos episódios aqui investigados. Cf. TINHORÃO, José R. Pequena história da música popular. São Paulo:Círculo do Livro, s/d. Pp.59.
(5) Este não pode ser, no entanto, considerado um grupo homogêneo em suas feituras musicais. Ao contrário, discutia-se o confronto entre um samba de terreiro, ou de Partido Alto, de Pixinguinha e seus companheiros, em oposição ao samba urbano de Sinhô. Para as diferenças entre Sinhô e Pixinguinha, por exemplo, confira ALENCAR, Edigar de. Nosso Sinhô do samba. Rio de Janeiro, FUNARTE, 1981.
(6) “O sangue não nega”, de Luiz Melodia e Ricardo Augusto, foi lançada no LP Felino, de Luiz Melodia, em 1982.


segunda-feira, 3 de abril de 2017

Programa Aldeia Do MUNDO

(por Magno Córdova)


A moça bonita da foto é Isaurinha Garcia.
Figura dentre as "maiores", uma diva do rádio nacional, para alguns Isaurinha antecede a Leila Diniz como uma mulher fora do seu tempo, "pioneira no comportamento ousado".
Isaurinha está no repertório do Programa Aldeia Do MUNDO que foi ao ar na terça-feira passada, dia 28/03, pela Rádio Inconfidência de Belo Horizonte.
Além de Isaurinha, estão nessa edição do programa: Heitor dos PrazeresTantinho da MangueiraLadston do NascimentoRusso PassapussoGonzaguinhaAve Sangria, Assaltarte, VanguartTotonho e Paulo Ró.
Se você não teve a oportunidade de ouvir, o áudio já encontra-se disponível na página da emissora. Se você ouviu e quer ouvir novamente, também poderá fazê-lo.
É só clicar aqui: http://inconfidencia.mg.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=12610
Um ótimo programa para todos!

domingo, 2 de abril de 2017

Cultura Indígena no Xingu

(por Magno Córdova)

O material a seguir foi organizado no ano de 2010 para a EMBRATUR - Empresa Brasileira de Turismo, junto à FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Mantém a estrutura das informações encaminhadas para a base de dados daquelas instituições naquele ano e constitui-se de fragmento de projeto envolvendo o mapeamento de destinos e produtos turísticos brasileiros realizados por diversos profissionais consultores. No caso, minha intervenção se deu no plano da consultoria em turismo cultural, responsável que fui por este e outros destinos/produtos de natureza semelhante em todo o território nacional. 

Sua divulgação aqui foi motivada pelo contexto da convocatória para o movimento Acampamento Terra Livre, visando unificar as lutas e fortalecer o Brasil indígena, a ser realizado de 24 a 28 de abril de 2017, em Brasília. 

Voltado para o setor turístico, o texto não possui elementos críticos que possam situar e nem pretende ser porta-voz do movimento que motivou sua publicação. No entanto, acredito que sua divulgação poderá introduzir alguma questão relativa às relações entre o Estado brasileiro e os povos indígenas e estimular o possível leitor a buscar novos elementos que possam situá-lo ao longo dos processos de luta e no âmbito do momento presente que se desenrola.

Em última análise, terá cumprido sua função se atender àqueles que simplesmente desconhecem o seu conteúdo ou que buscam o que é seu objetivo primordial: orientar o público dentro das categorias do turismo cultural. 

 Cultura Indígena no Xingu 


Considerado a maior e uma das mais famosas reservas do gênero no mundo, o Parque Indígena do Xingu ocupa uma área de cerca de 27 mil km² no Centro-Oeste brasileiro. Abriga 5 mil habitantes, divididos em 15 etnias e 30 aldeias. Segundo a UNESCO, o Parque Indígena do Xingu representa o mais rico mosaico linguístico das Américas.

Localiza-se no norte do estado do Mato Grosso, a 530 km da capital Cuiabá. O centro de visitantes Leonardo Villas Boas fica às margens do rio Tuatuari, no município de Feliz Natal. 

Em relação à melhor época para visitação ao Parque, é considerado ideal o período de junho a agosto, que é o período de seca, embora seja possível nos outros meses do ano. Durante o período seco aparecem pequenas praias às margens dos rios.

O Posto Leonardo Villas Bôas é um dos pontos mais movimentados do Xingu. Além de receber visitantes e pesquisadores durante o ano inteiro, a unidade presta atendimento médico, odontológico e abastece toda a região do Alto Xingu. O posto atende a mais de oito etnias como Kuikuros, Kalapalos, Iaualapiti, Kamaiurá, Waurá e Aweti. 

(Imagem extraída do youtube)

O Parque Indígena do Xingu (PIX) foi criado em 1961, por iniciativa de sertanistas liderados pelos irmãos Villas-Bôas - Cláudio,  Orlando e Leonardo. Foi resultado de vários anos de trabalho e luta política dos irmãos Villas Boas, ao lado de personalidades como Marechal Rondon, Darcy Ribeiro, Noel Nutels, Café Filho e muitos outros. Sua criação teve por objetivo garantir a sobrevivência, melhores condições de vida e a posse da terra à população indígena da região. Como conseqüência, preservar sua cultura, seus hábitos e sua religião. Segundo Orlando Villas Bôas, “o governo brasileiro, ao criar o parque, procurou cumprir dois importantes objetivos: constituir uma reserva natural para a fauna, flora e, sobretudo, fazer chegar diretamente às tribos sua ação protetora”. Atualmente, o parque tem cerca de 5 mil habitantes de 15 etnias diferentes, reunidos em 30 aldeias. Entre as etnias encontram-se: Waurá, Kayabi, Ikpeng, Yudja, Trumai, Suiá, Matipu, Nahukwa, Kamaiurás, Yawalapitis, Mehinakos, Kalapalos, Aweti, Kuikuro.

Em seus 2,6 milhões de hectares, a paisagem exibe uma grande biodiversidade. É uma região de transição ecológica: das savanas e florestas semideciduais mais secas, ao sul, para a floresta ombrófila amazônica, ao norte. Apresenta cerrados, campos, florestas de várzea, florestas de terra firme e florestas em Terras Pretas Arqueológicas. As matas que cobrem a região não apresentam a mesma exuberância das típicas florestas hileianas, em virtude do menor porte de suas árvores. No entanto, se enquadram perfeitamente no típico cenário amazônico geral, dada a sua densidade, preponderância da coloração verde escura e, sobretudo, pela continuidade da formação florestal que se estende indefinidamente para todos os lados.

O clima alterna uma estação chuvosa, de novembro a abril - quando os rios enchem e o peixe escasseia -, e um período de seca nos meses restantes, época da tartaruga tracajá e das grandes cerimônias inter-aldeias. Ao sul do parque estão os formadores do rio Xingu, que compõe uma bacia drenada pelos rios Von den Stein, Jatobá, Ronuro, Batovi, Kurisevo e Kuluene. Este último é o principal formador do Xingu, quando se encontra com o Batovi-Ronuro.

Pode-se dividir o parque em três partes, de acordo com os povos que lá habitam: o norte, conhecido como Baixo Xingu; na região central, o chamado Médio Xingu; e ao sul, o Alto Xingu. Os povos do sul são muito semelhantes culturalmente e são atendidos pelo Posto Indígena Leonardo Villas Bôas. No Médio Xingu ficam os Trumai, os Ikpeng e os Kaiabi, atendidos pelo Posto Pavuru. Ao norte estão os Suyá, Yudjá e Kaiabi, atendidos pelo Posto Diauarum. Cada posto apóia a logística de projetos e atividades desenvolvidas no Parque, como educação e saúde, havendo em todos eles uma UBS (Unidade Básica de Saúde) onde trabalham agentes indígenas de saúde e funcionários da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), conveniada com a Funasa.

O Xingu passou por diversas mudanças que coincidem com a história da questão indígena nas últimas décadas. No início, a filosofia aplicada pelos Villas Bôas visava proteger o índio do contato com a cultura dos grandes centros urbanos. Com a saída de Orlando e Cláudio Villas Bôas da direção do Parque, em 1973, este pensamento começou a mudar. O administrador seguinte, Olímpio Serra, começou a contratação dos primeiros funcionários indígenas da Funai, dando o primeiro passo para uma maior representação das comunidades. Em 1982, o Xingu teve seu primeiro diretor índio, o cacique Megaron, da tribo Kaiapó. Desde então, outros começaram a se preparar e assumir diversos cargos dentro do Parque. Atualmente, eles detêm a maioria dos postos administrativos, protegendo suas próprias fronteiras e prestando assistência à comunidade.

Das etnias que habitam o parque muitas estão em áreas mais preservadas do contato com o homem branco, no Alto Xingu, terra de Aritana e do Quarup. 53 tribos ainda vivem isoladas no meio da selva. Outras estão mais próximas do branco, na busca de ações que melhorem realmente a qualidade de vida das comunidades. São os grupos instalados nas redondezas dos postos Diauarum e Pavuru, no Baixo e Médio Xingu.

Abaixo, vídeo com a música "Mito - Metumji Iarén", dos índios Suyá, do Mato Grosso do Norte, adaptada pela cantora e pesquisadora Marlui Miranda. Em 1995, Marlui gravou o disco ihu - Todos os sons, onde fez adaptações de repertório musical indígena brasileiro.
(Vídeo extraído de https://www.youtube.com/watch?v=kG7adWydLWw )

Atrativos Turísticos Específicos

O Pólo Xingu apresenta em seu roteiro turístico uma das mais importantes reservas indígenas brasileiras. O Parque Indígena Xingu está localizado no coração do Brasil, ao norte de Mato Grosso, na divisa com o Pará. É uma região de transição entre o cerrado e a Floresta Amazônica. O parque espalha-se por 27 mil km². Nesse ambiente está sediado o Xingu Refúgio Amazônico, localizado a uma hora de barco da aldeia das tribos Waurá e Trumai.  Foi implantado fora do perímetro do Parque Nacional do Xingu exclusivamente para atender a demanda turística. Isso porque não é permitido entrar no parque. O empreendimento tem como foco principal mesclar a cultura nativa com a riqueza do meio ambiente, o que o torna uma alternativa para a prática do turismo cultural (étnico) e ecológico. O lugar é dotado de uma piscina natural e construído no formato de uma aldeia. Possui restaurante com vistas para o rio Von den Steinen. Através dos seus responsáveis, é estabelecido contato direto com o artesanato e a cultura dos povos da região. Também é possível integrar a aldeia, participando das atividades que fazem parte do dia-a-dia das tribos, como pesca de arco e flecha, produção de artesanato cerâmico, palha e preparação do sal de aguapé. Além destas vivências, o visitante assiste a apresentações de danças e ouve histórias e lendas do povo Xingu. Dessa forma, presencia o cotidiano indígena, troca experiências e interage com a cultura e culinária local.

O Xingu Refúgio Amazônico foi projetado para gerar alternativas de conservação dos ecossistemas naturais da borda oeste do Parque Nacional Indígena do Xingu. Essa região recria os ambientes e a influência da cultura indígena do Alto Xingu, como a encontrada pelo pesquisador alemão Von den Steinen, em 1884. O nome do pesquisador passou a ser o nome de um importante afluente da Bacia do Rio Xingu graças ao reconhecimento da relevância dos seus trabalhos para a fixação da cultura dos povos da região.

O projeto da pousada teve início em 1996, através de estudos realizados por técnicos especializados em ecologia e ecoturismo. Foi inaugurado em 2000, ocupando uma área de 41 mil hectares, incluindo uma fazenda com plantações de soja e arroz. Está localizado junto à borda do Rio Von den Stein e ao lado da borda oeste do Parque Nacional do Xingu. Transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural, conta com uma área de 19 mil hectares no município de Feliz Natal, na vertente sul da bacia Amazônica. Os responsáveis pelo projeto contam com a colaboração das tribos Waurá e Trumai.

A Pousada possui 7 quartos, para até 20 pessoas, área de camping, restaurante, piscina em forma de deck sobre o rio, fornecendo hospedagem com pensão completa e equipamentos inclusos em todos os passeios. Dentre as atividades sugeridas aos visitantes estão:
  • percorrer a pé uma trilha com 2 mil metros de extensão para conhecer uma praia de rio, ótima para banhos, acompanhado por um indígena raizeiro (conhecedor da flora e fauna local). Depois retornar à pousada de canoa ou barco;
  • visitar a fazenda da qual a pousada faz parte, conhecendo o lado rural da floresta amazônica;
  • praticar canoagem entre os igarapés e lagoas, podendo realizar pesca esportiva;
  • fazer passeios a cavalo percorrendo 10km de trilhas;
  • visitar um sistema de manejo florestal, e saber o que é um levantamento de senso. Conhecer a parte da propriedade que gera produção de madeira para venda, com selo verde, com controle. Verificar onde são determinadas as árvores escolhidas como reprodutoras, as que deverão ser cortadas e re-plantadas.
Na primeira noite é realizada uma apresentação sobre a estrutura da pousada e sobre a cultura indígena. Na manhã seguinte ocorre a visita à aldeia, com permanência de um dia. Há a possibilidade de dormir uma noite na aldeia, em oca equipada com redes para dormir. Podem ser realizados passeios percorrendo trilhas com os índios, pescaria e focagem noturna de jacarés. Também à noite ocorre a convivência no centro da aldeia, com fogueira, danças, pinturas corporais, relatos de estórias e tradições orais da região.