segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Convoco músicas, canções,...

(por Magno Córdova)

...porque elas chegam a mim e me tomam de assalto.


Não sou de reagir a assaltos. Muito menos desse tipo. Até mesmo porque, a experiência tem mostrado que os desdobramentos dessas situações de escuta tendem a me convencer de que sigo por um rumo certo. Não o único, claro, mas certo caminho. Certo no sentido de que a canção passa de uma possibilidade de saber disponível, inerente na origem de tudo, para uma condição cada vez mais pertinente e desejável de instrumento que altera rotas, preenche vazios, revolve certezas e consolida convicções.


Por isso essa fala conduzida, conduzida consciente e que se faz e se quer crítica. Que faz dar o salto de ida, feito a língua que um almeja, e o de volta, feita a mulher do outro, que coincidem em mim, em um reconhecimento de paternidade/maternidade (ou seria fraternidade?) - dentre inumeráveis - que não há de se negar e que, por si, se justifica.

Não falo inglês nem francês; não falo bizantino nem hebraico. Falo esse canto que, no muito, é esperanto quase esperança, que não perde extensões de sua latitude, por ser uma fala que, aparentemente unívoca, abrange sem se querer totalista, porque inesgotável.


Aciono música, canções, e não penso numa existência que não seja assim, com cada um buscando sentido e autonomia para escolher o instrumento que lhe apetece. Canção também pode ter esse papel, esse significado.

Escolho música! E reagir a seus assaltos seria negar o que sempre esteve e que se afirmou como opção. Se assim fosse, com resistência, estaria a negar a própria natureza e a minha inserção nela, natureza.
Seria, assim, diga-se, uma etnia comum, na sola do pé descalço seu pigmento matriz. Chão.


Opto por música, por canções, como decisão particular que redimensiona o corpo, que o coloca no mundo. Abriga, assim, uma dupla função: a canção permite percorrer o lugar que povoo e que também é o lugar onde o outro habita.  Daí que desponta sua dimensão coletiva. Sou uma isca cada vez mais fácil e, a cada escuta, mais exigente neste campo.

Exijo canções e música e texto e poesia e sou eu que decido o que fazer com eles e com elas e por eles e por elas.


Leio o mundo como um repertório que encontra na palavra, soprada por qualquer sopro, um vento vindo do itinerário do peito, do profundo mistério, um bom veículo.

E embarco.


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