sábado, 12 de novembro de 2016



TODA TERÇA, ÁS 22H

ACOMPANHE O PROGRAMA NO RÁDIO: Inconfidência FM de Belo Horizonte, 100,9

OU PELO SITE: http://inconfidencia.mg.gov.br/aldeiadomundo


OU

CURTA, COMENTE e PARTICIPE do perfil no facebook: www.facebook.com/programaaldeiadomundo

SEJA BEM-VINDO(A) e uma ÓTIMA ESCUTA pra você!





sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Programa Aldeia do Mundo - Rádio Inconfidência FM - Belo Horizonte - Produção e Apresentação de Magno Córdova

(por Magno Córdova)

Amigos/amigas,
a segunda edição do Programa #AldeiaDoMundo, levado ao ar na última terça-feira, dia 1º de novembro, encontra-se disponível na página da Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte.
Se você ouviu e gostaria de ouvir novamente; ou se você não teve a chance de ouvir no dia em que o programa foi ao ar e gostaria de conferi-lo, fique à vontade para acessar o arquivo através do endereço abaixo.
Uma boa escuta pra todos e todas!

http://inconfidencia.mg.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=11593
FM 100,9 brasileiríssima
Aldeia do Mundo

Aldeia do Mundo

com Especiais.
Apresentação e produção do historiador Magno Córdova

 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Imprensa e história recente do Brasil

(por Magno Córdova)

Nas eleições das “Diretas Já” para presidente da república no Brasil, em 1984, o Jornal da Tarde apresentou o que se considera a sua maior inovação em termos gráficos: na sua primeira página, anunciou a derrota do projeto das diretas oferecendo aos leitores apenas um retângulo preto, sem qualquer dizer, simbolizando o luto pela derrota.


         Em 1973, o editor do Jornal do Brasil, Alberto Dines, impedido de noticiar a morte de Salvador Allende, presidente socialista chileno deposto por uma junta militar chefiada por Augusto Pinochet, apresentou a primeira página do jornal sem manchetes e sem fotos. Com isso, ao mesmo tempo driblou a censura e denunciou sua ação.

         Entrevistado sobre sua participação no momento do golpe dado pelos militares em 1964, o general Olympio Mourão Filho declarou ter lido na manchete do jornal O Globo de 31 de março daquele ano que haveria se instalado um soviete na Marinha de Guerra. Preocupado com a presença comunista no comando da corporação, decidiu marchar com suas tropas e antecipar o golpe.

         A forma como a imprensa nos conta a História do país deve ser vista com cautela. Qualquer que seja a tentativa de um órgão de comunicação no sentido de tornar imparcial o acontecimento abordado, a informação dada trará em seu bojo as preferências ideológicas de quem a fornece. Nesse sentido, a matéria jornalística representa um documento muito útil para a identificação das correntes de pensamento dominantes entre os órgãos formadores de opinião em um determinado momento histórico.


Há um pequeno livro, paradidático, que pode servir como uma boa iniciação sobre o papel dos órgãos de imprensa no país. Seu título é “Imprensa e História do Brasil”, de Maria Helena Rolim Capelato. Foi publicado pela primeira vez em 1988, pela Editora Contexto. Encontra-se disponível em pdf no endereço: https://pt.scribd.com/doc/317069631/CAPELATO-Maria-Helena-Rolim-Imprensa-e-Historia-do-Brasil-Editora-Contexto-Sao-Paulo-1988-1-pdf



Abaixo, uma canção que joga luz sobre uma outra dimensão, inusitada (?) acerca dos usos dados ao jornal (vídeo com o áudio da música logo após o texto com a letra). No caso, o jornal utilizado por um migrante na São Paulo de meados do século XX. "Meu enxoval" é um coco de autoria de Gordurinha e José Gomes. Foi gravada por Jackson do Pandeiro em 1958. 

Eu fui para São Paulo procurar trabalho 
E não me dei com o frio 
Tive que voltar outra vez para o Rio 
Pois aqui no Distrito Federá 
O calor é de lascar 
E veja o meu azar: 
Comprei o "Jornal do Brasil" 
Emprego tinha mais de mil 
E eu não arranjei um só... 

Telegrafei para a vovó 
Ela tem uma bodega em Recife, Pernambuco 
Eu disse pra ela que estou quase maluco 
E que não tenho nem onde morar, o quê que há?

Estou dormindo ao relento, valei-me nossa Senhora! 
O meu travesseiro é um "Diário da Noite" 
E o resto do corpo fica na "Última Hora".

Mas se eu voltar, aquela turma lá do Norte me arrasa 
Principalmente o povo lá de casa 
Que vai perguntar por que é que eu fui embora. 
Por isso eu vou ficando 
Dormindo aqui na porta do Municipal 
Com quatro mil-réis eu compro o enxoval: 
"Diário da Noite" e a "Última Hora".


sábado, 15 de outubro de 2016

Os professores e a mídia em dois golpes de Estado no Brasil

(por Magno Córdova)

"A MPB foi a escola da minha geração" (Simone Guimarães)

Pensou-se em utilizar o seguinte subtítulo ao texto, sugerindo um traço de perfil do segundo elemento do parâmetro comparativo:

"Da hipocrisia fardada aos descarados de toga",

típico de cacoetes acadêmicos, mas sem abrir mão de certa dose de sarcasmo.

O contexto de origem é o período militar recente no Brasil. Cabe ao leitor situar o momento presente a partir do que as canções e o rápido comentário evocam, confrontados com o que esteja diante dos olhos da atualidade, de PECs e políticas descaradamente insanas.
Vamos a ele.

Em determinado momento de meu texto de dissertação, avalio duas canções. 

A primeira, de Ednardo, intitula-se "Receita da felicidade", cuja letra é a seguinte (logo abaixo o vídeo com a canção):

Ultimamente ando às vezes preocupado
Vendo a cara tão risonha das crianças
Nas fotos, nos anúncios
Nos cartazes das paredes
Dando ideia que algo vai acontecer
É receita certa pra sensibilizar
Pra esconder
Pra mentir ou pra vender
Vejo as caras tão risonhas
Tão lindinhas, tão risonhas
Nos jornais
Nas paredes, nas TVs
Eu não gosto desses dedos que me apontam
Eu não gosto dessas frases que me dizem
“O futuro deles está nas suas mãos”
Pois é, seu Zé, sei não
Não me esqueço que algum dia fui risonho
Com a carinha bonitinha pra valer
Quem guardou o meu futuro
Quem guardou o meu futuro
Quem guardou o meu futuro
Me dê.

(vídeo extraído do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=SgR45Wa622k)

Na sequência, após rápida contextualização acerca da TV e dos meios de comunicação no Brasil dos anos 70, comento:

"Em sua canção, o compositor evoca uma imagem importada que ficara marcada como símbolo da convocação para a guerra: os dedos apontados como que a cobrar uma responsabilidade dos indivíduos na execução de campanhas perpetradas pelo Estado encontram na figura de Tio Sam o similar externo perfeito dos projetos dos militares como, por exemplo, o do MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização.

E aqui ele remete ao slogan utilizado nesta campanha, só que reconstruído: em “o futuro deles está nas suas mãos” lê-se “você também é responsável”, verso da canção que embalou a campanha de implementação daquele projeto educacional e que, curiosamente, foi interpretada por dois conterrâneos seus: Dom e Ravel nasceram no estado do Ceará".

Para finalizar, então, segue a letra de "Você também é responsável" (o vídeo contendo o registro sonoro encontra-se logo em seguida):

Eu venho de campos, subúrbios e vilas,
Sonhando e cantando, chorando nas filas
Seguindo a corrente sem participar
Me falta a semente do ler e contar
Eu sou brasileiro anseio um lugar
Suplico que parem pra ouvir meu cantar:
Você também é responsável, então me ensine a escrever
Eu tenho a minha mão domável, eu sinto a sede do saber

Do saber, do saber

Eu venho de campos, tão ricos, tão lindos
Cantando e chamando. São todos bem-vindos
A nação merece maior direção. Marchemos pra luta
De lápis na mão;
Eu sou brasileiro, anseio um lugar, suplico que parem pra ouvir meu cantar:
Você também é responsável
Então me ensine a escrever
Eu tenho a minha mao domável, eu sinto a sede do saber

Do saber, do saber
Do saber, do saber

(vídeo extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=G6kwbZIHZmA)

domingo, 2 de outubro de 2016

História de BH em pílulas I - Processo de urbanização

(por Magno Córdova)



A zona urbana de Belo Horizonte é composta de um traçado ortogonal de ruas e avenidas separadas da zona suburbana pela antiga avenida 17 de Dezembro, atual Contorno. O modelo inicialmente concebido pelos construtores da cidade incluía uma terceira área que seria a zona rural, onde se localizavam as colônias agrícolas, e que se constituiria em um “cinturão verde”. A ocupação dessas áreas não se deu de acordo com o previsto pelos idealizadores do modelo habitacional. A zona urbana teve boa parte de seus terrenos postos em leilão para que a seleção de proprietários se desse por um critério de renda. 

O que se verificou foi que, já no ano de 1902, viviam cerca de duas mil pessoas em favelas no interior da área da Contorno, principalmente nas regiões do entorno da avenida Amazonas, antiga Barroca, atual Barro Preto, local então destinado para o Jardim Zoológico municipal. Em algumas dessas áreas apareceram Vilas Operárias, locais habitados por aqueles que comprovavam bom comportamento e educação sanitária. 

A previsão de que a ocupação se daria do centro para as regiões periféricas foi subvertida, conforme atestam os dados do censo realizado em 1912: dos 39 mil habitantes moradores da cidade naquele ano, quase 70% residiam nas áreas suburbanas e na zona rural. Ou seja, cerca de 27 mil pessoas já haviam se estabelecido fora do espaço da avenida do Contorno. A área interna a essa avenida foi projetada para receber uma população de 30 mil pessoas e contava com apenas 12 mil habitantes naquela época. Nas décadas de 1930 e 1940, a cidade conheceu um período de extraordinário desenvolvimento urbano, em especial fora da Avenida do Contorno, que iria se refletir nas décadas posteriores. 

Em trinta anos, a população da cidade saltou dos 211 mil habitantes de 1940, para 1 milhão 255 mil habitantes em 1970. Mais da metade dessa população não era nascida na cidade, sendo grande parte dela originária das áreas rurais de todo o estado de Minas.

Abaixo, uma bela canção que faz menção a Santa Tereza, bairro de Belo Horizonte que ganhou status de importante território musical da cidade, particularmente a partir dos anos 70. Foi nesse bairro que se consolidaram as parcerias e encontros musicais do Clube da Esquina. O contexto era, portanto, o da Esquina, nome que alude explicitamente à importância desse elemento urbano no cotidiano da cidade, caracterizando-a.

Os compositores da canção são Tavinho Moura e Murilo Antunes. E o registro aqui tomado é o que se consolidou na própria cidade, impregnando seu imaginário. O intérprete é Beto Guedes e ela faz parte de seu álbum intitulado Contos da lua vaga, lançado em 1981.

A pedalar
Camisa aberta no peito
Passeio macio 
Levo na bicicleta
O meu tesouro da juventude
Passo roubando fruta de feira
Passo a puxar meu estilingue
Vai pedra certeira no poste
Passa um veterano
E já cansado
Herói de guerra
Grito: Lá vem a bomba!
E meu tesouro me leva
Pelas ruas de Santa Teresa
A pedalar
Encontro amigo do peito
Sentado na esquina
Pula, pega garupa
Segura o bonde ladeira acima
Ganha o meu tesouro da juventude
Ainda que a cidade anoiteça
Ou desapareça
Piso no pedal do sonho
E a vida ganha mais alegria
Ganha o meu tesouro da juventude
Que foi em Pedra Azul
E em toda parte
Onde tive o que sou



Uma indicação para leitura é o texto “Habitação e produção do espaço em Belo Horizonte”, de Heloísa Soares de Moura. Presente no livro Belo Horizonte: espaços e tempos em construção, organizado por Roberto Luis de Melo Monte-Mór. Publicação do CEDEPLAR – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional e Prefeitura de Belo Horizonte.

Outro texto sugerido, relativo à produção musical do Clube da Esquina e sua relação com o espaço da cidade, foi publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro e pode ser acessado através do endereço http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/RAPM07A122008_Acancaoamiganasruasdacidade.pdf . Seu autor é o histoiador Bruno Viveiro Martins. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Parque Nacional da Serra da Capivara - Patrimônio Mundial (UNESCO, 1991)

Abro aqui uma exceção quanto ao conteúdo proposto por esse blog que originalmente publica textos cujo objeto norteador é a música. 

O material a seguir é parte das informações por mim organizadas na condição de consultor em projeto intitulado  Promoção da diversidade e do diálogo intercultural entre o Brasil e o exterior por meio do turismo cultural, realizado em 2010, para o Ministério do Turismo, através da Embratur.

A iniciativa de torná-lo público foi motivada tendo em vista a situação político-administrativa atual (agosto de 2016) do Parque e da Fundham, criada para preservá-lo. 

As informações nele contidas, portanto, devem ser consideradas no contexto do ano em que o projeto foi realizado.
(por Magno Córdova)


Parque Nacional da Serra da Capivara - Patrimônio Mundial (UNESCO, 1991)



(Imagem extraída do endereço http://www.fumdham.org.br/ . Acesso em 24/08/2016)


Definição 

Área de proteção ambiental permanente que possui importante patrimônio em sítios arqueológicos. Inspirou a criação no local do Museu do Homem Americano. Suas grutas e tocas apresentam diferentes estilos de pintura e gravura rupestre e há circuitos de visitação a outras formações geológicas do semiárido, clima típico do Nordeste brasileiro.

Localização

Está localizado no sudeste do estado do Piauí e o principal município a que pertence é São Raimundo Nonato. Os outros são Brejo do Piauí, Coronel José Dias e João Costa. O ponto de referência para acesso ao parque é a cidade pernambucana de Petrolina, a 350 km, onde há aeroporto que opera com voos regulares. Dessa cidade e também de Teresina, que fica a 510km, saem ônibus para São Raimundo Nonato. Agências de viagens especializadas em ecoturismo costumam oferecer pacotes completos para visitas à Serra da Capivara.

Melhor época para ir

De dezembro a junho, quando as temperaturas locais são mais baixas. Fica aberto diariamente das 7h às 17h, durante todo o ano.
É obrigatório obter autorização do Ibama-PI e contratar um guia cadastrado pelo Ministério do Meio Ambiente. O percurso aberto à visitação possui 22 sítios arqueológicos com escadas de acesso, passarelas e sinalização.

Características gerais

O Parque Nacional Serra da Capivara reúne a maior coleção de desenhos rupestres do mundo, com cerca de 30 mil pinturas catalogadas. Está situado na região semi-árida do Nordeste do Brasil, na fronteira entre o sertão nordestino e a floresta amazônica. Apresenta dois períodos climáticos ao longo do ano: um de seca e um chuvoso. O relevo atual se formou há cerca de 240 milhões de anos. Um levantamento da placa do estuário marítimo que ocupava a região onde hoje está situado o parque forma uma cuesta. A cuesta representa uma fronteira entre a planície pré-cambriana do rio São Francisco e a formação sedimentar do período permiano-devoniano da serra. A diferenciação das rochas que formam a serra e a ação do tempo modelaram o relevo com formas e cores variadas.

Mais de 700 sítios arqueológicos foram mapeados no Parque Nacional e na área de proteção permanente. A maioria é formada de abrigos sob rocha. As pinturas dominantes são de caráter narrativo, retratando cenas da vida cotidiana e cerimonial. Seu conjunto forma um sistema gráfico de comunicação entre aqueles povos. É possível ao visitante observar a permanência temática dessa arte, tradição cultural que perdurou aproximadamente 12 mil anos. Ao mesmo tempo, faz-se notar uma evolução estilística na composição das cenas, através das variações na técnica de desenho e pintura. Há diversos vestígios deixados pelo homem pré-histórico nos sítios arqueológicos espalhados pelos 130 mil ha de área do parque, com galerias de vários andares, cobertas por pinturas e gravuras rupestres.

O parque foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO, em 1991. Está estruturado para receber a visita de diversos públicos. Há trilhas e sítios com graus diferenciados de dificuldade de percurso, conforme a disponibilidade de tempo e o condicionamento físico do visitante. Possui trilhas por desfiladeiros e sobre as cadeias de montanhas da serra local. Há 14 trilhas turísticas que permitem a visita, com segurança, a mais de 100 sítios de pinturas rupestres. Uma delas fica a menos de 200m do receptivo do parque e traz mais de 3 mil registros desses desenhos, podendo ser visitada por turistas da melhor idade.

Um projeto social vinculado ao parque é desenvolvido pela Fumdham (Fundação Museu do Homem Americano). As pinturas rupestres inspiram a produção cerâmica da fábrica mantida pela fundação. O projeto é autossustentável e visa capacitar a mão de obra surgida com a proibição da caça de animais selvagens na região. A produção da fábrica atende a mercados internos como São Paulo e externos como a Itália. A Fumdham é cogestora do Parque Nacional Serra da Capivara em parceria com o Ministério do Meio Ambiente.

Os visitantes têm três opções de hospedagem: Pousada Hotel Serra da Capivara (fica em São Raimundo Nonato, de propriedade do Governo do Piauí. Cedida à Fumdham, sua operação é terceirizada. Possui loja com produtos relativos à Serra da Capivara), Camping do Sítio do Mocó (próximo ao Centro de Visitantes do parque. Aluga e oferece espaço para barracas e tem restaurante que oferece alimentação sob encomenda) e Albergue Estudantil Barreirinho (a 4km da principal entrada do parque, com diárias que incluem refeições).

Atrativos Específicos

Circuitos:

Entre as atrações do Parque Nacional da Serra da Capivara, destacam-se os seguintes circuitos: Coronel José Dias, Toca do Pajaú, Circuito do Veadinho Azul e Baixão da Vaca pelo Desfiladeiro da Capivara, Baixão da Vaca II e III, Toca da Saída, Paredão dos Veadinhos, Toca do Neguinho Só, Baixão da Vaca I, Projeto Social – Cerâmica, Sítio do Mocó, Fundo do Baião da Pedra Furada, Vista Panorâmica Caldeirão do Rodrigues, Toca do Rodrigues II, Canoas III, Canoas I e II, Baixão das Andorinhas, Toca de Cima do Pilão (caverna iluminada com energia solar), Vista Panorâmica da Serra Talhada, Trilha do Hombú (interpretativa), Toca da Martiliana, Toca da Pedra Furada, Toca da Invenção (pinturas brancas), Toca da Boca do Sapo, Visita ao Camping, Toca dos Coqueiros (Zuzu), Baixão das Mulheres II, Baixão das Mulheres I, Travessia do Alto da Pedra Furada, Gruta do Alto da Pedra Furada, Centro de Visitantes do Parque, Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Pedra Furada e anfiteatro, Toca do Cajueiro, Toca do Sítio do Meio, Toca do Boqueirão da Pedra Furada (iluminação noturna).

Baixão das Andorinhas:
Local onde se observa grande quantidade de aves dessa espécie recolhendo-se para seu abrigo noturno: uma gruta situada no alto de um desfiladeiro.

Centro de Visitantes:
Centro de apoio ao público, com lanchonete, auditório para apresentação de vídeos, loja com produtos Serra da Capivara, cerâmica, postais, livros etc.

São Raimundo Nonato:
Em São Raimundo Nonato, a Fumdham desenvolve o projeto social da fábrica de cerâmica da Serra da Capivara e. gerencia o Museu do Homem Americano e o Centro Cultural Sergio Mota, onde são desenvolvidas pesquisas científicas. As descobertas feitas na área levaram arqueólogos a acreditarem que o homem teria habitado o continente americano há mais de 30 mil anos, contrariando as teorias mais aceitas pelos cientistas. O museu conta a história da evolução do homem e tem em seu acervo os achados arqueológicos do lugar: ferramentas em pedra, restos de cerâmica, vestígios de fogueiras, de sepultamentos, esqueletos fossilizados de grandes animais pré-históricos. Deve ser visitado no primeiro dia de estadia em São Raimundo Nonato, como forma de orientação aos roteiros e percursos internos do parque.

OBS: Só é permitida a entrada no Parque Nacional acompanhado de guia oficial. No hotel em São Raimundo Nonato obtém-se orientação sobre a contratação do guia. O parque fica a aproximadamente 40km de distância da cidade. O visitante pode se deslocar em condução particular ou contratar transporte junto ao próprio guia. Não existe sistema regular de transporte para o parque. Os guias são formados pela Fumdham. Existem normas de conduta relativas ao parque, cujo objetivo é educar o visitante e auxiliá-lo na preservação do patrimônio. A Fumdham possui publicações bilíngue e trilíngue relativas ao parque.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Vander Lee

(por Magno Córdova)

A primeira vez que vi Vander Lee no palco ele ainda era Vanderli Natureza. Seu nome assim grafado já era do meu conhecimento através de cartazes anunciando uma ou outra apresentação em bares e espaços mais alternativos de BH em fins dos anos 80.
Em 1990, se não me engano, fui convidado para ser jurado no Festival da Canção de Abre Campo, cidade mineira da Zona da Mata, situada a aproximados 200 km da capital. A desenvoltura com que Vanderli subiu ao palco e o belo número por ele defendido não me deixaram dúvidas de que ali havia um forte candidato ao primeiro prêmio daquele concurso.
Vanderli não venceu o festival, ficou com o segundo ou terceiro lugares o que, de certa forma, me decepcionou, dentre os demais companheiros do juri que optaram por outros candidatos. Chamo atenção para o fato de que havia gente muito boa concorrendo, inclusive um compositor que além de muito talentoso era meu amigo pessoal. No entanto, era indiscutível a superioridade do conjunto entre texto, melodia e desempenho demonstrados por Vanderli.
Ao longo da década de 90, sempre que me deparava com o nome dele - grafado ou não como daquela primeira forma - ficava atento, na expectativa de coisa boa de se ouvir. Não me decepcionei.
A consolidação veio com "No balanço do balaio", de 1997, colocando-o em definitivo dentre o que de melhor estava acontecendo na cena musical local.
Ficou, mais ou menos desse período de passagem de séculos, um registro que creio ter sido aquele que reafirmou seu ingresso para fora dos limites do território de seu estado natal: em seu terceiro disco, "Comigo", gravado em 2001, a maranhense Rita Ribeiro registrou duas canções de Vander Lee: "Românticos" e a que se segue, "Contra o tempo", que não parou de soar em meus ouvidos nos anos subsequentes ao seu lançamento e de minha saída do território mineiro.
Era, mais uma vez, Minas redimensionada no território brasileiro - neste caso, sob a batuta de uma ginga maranhense - que eu precisava levar comigo.
Até que ele ganhasse visibilidade com sua própria voz por todo canto, o que não tardou a acontecer.
Corro contra o tempo pra te ver
Eu vivo louco por querer você
ÔÔ, morro de saudade a culpa é sua
Bares, ruas, estradas, desertos, luas
Que atravesso em noites nuas
ÔÔ, só me levam pra onde está você
O vento que sopra meu rosto cega
Só o seu calor me leva
ÔÔ, de uma estrela pra lembrança sua
O que sou, onde vou, tudo em vão
Tempo de silêncio e solidão
O mundo gira sempre em seu sentido
E tem a cor do seu vestido azul
ÔÔ, todo acaso finda em seu sorriso nu
Na madrugada uma balada soul
Um som assim meio rock n' roll
ÔÔ, só me serve pra lembrar você
Qualquer canção que eu faça tem sua cara
Rima rica, jóia rara
ÔÔ, tempestade louca no Saara
O que sou, onde vou, tudo em vão
Tempo de silêncio e solidão


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Pernambuco falando pra mim (e pra quem quiser ouvir).

(por Magno Córdova)

Quem acompanha o trabalho de Lenine desde o disco Olho de Peixe (com Marcos Suzano, lançado em 93) ouviu dizer, desde lá, de um poeta Recifense chamado Carlos Pena Filho: “... Eu sou um verso de Carlos Pena Filho/ Num frevo de Capiba/ Ao som da Orquestra Armorial...”, diz alguns dos versos de “Leão do Norte”, canção feita em parceria com Paulo César Pinheiro, cujo título alude e homenageia expoentes da cultura do estado natal do cantor/compositor.

Por sua vez, quem conhece a trajetória de Alceu Valença ouviu versos de Pena Filho musicados por ele - também pernambucano, de São Bento do Una - desde seu disco Coração Bobo, que é de 1980.

O poeta Carlos Pena Filho faleceu no mesmo 1º de julho em que Alceu Valença completou 14 anos de idade. O ano era 1960 e Pena Filho morreu precocemente, aos 31 anos. Consagrou-se no universo da canção através de parceria justamente com o mestre Capiba. Pena Filho não chegou a ver as canções de seus versos ganharem projeção pública. E sequer chegou a conhecer alguns dos seus versos em forma de canção.

Solibar

Versos de Carlos Pena Filho
Música de Alceu Valença

Seis dos pingos da goteira
Batucando no passado
E sei que as cinzas da fogueira
não recomporão os galhos
Dia sim e dia não
Dói a minha solidão
Eu tô ficando aperreado

São trinta copos de chopp
São trinta homens sentados
Trezentos desejos presos
Trinta mil sonhos frustrados
No bar 'Savoy' na Sertã
No 'Luna' bar no Leblon
Vejo a tristeza do gado







(Acima, à esquerda, "Rosas Azuis", quadro da viúva Tânia Carneiro Leão, baseado em "Soneto", de Carlos Pena Filho, poema que diz: "Por seres bela e azul e improcedente/ é que sabes que a flor o céu e os dias/são estados de espírito somente,/como o leste e o oeste, o norte e o sul./ como a razão por que não renuncias/ao privilégio de ser bela e azul". À direita, quadro "A mesma rosa amarela", de Tereza Costa Rego, baseado no poema de mesmo nome)

A atualização da poesia musicada em textos de Carlos Pena Filho evidencia-se nessa gravação mais recente de "A mesma rosa amarela", que já fora gravada por inúmeros intérpretes, gente feito Maysa ou Nelson Gonçalves, por exemplo. O registro  aqui encontra-se no primeiro disco de Junio Barreto, lançado em 2004, e foi incorporado à trilha do filme Deserto feliz, de 2007. 


A mesma rosa amarela

Versos de Carlos Pena Filho
Música de Capiba

Você tem quase tudo dela
O mesmo perfume
A mesma cor, a mesma rosa amarela
Só não tem o meu amor
Mas nestes dias de carnaval
Você vai ser ela
O mesmo perfume, a mesma cor
A mesma rosa amarela
Mas não sei o que será
Quando chegar a lembrança dela
E de você apenas restar
A mesma rosa amarela
A mesma rosa amarela

Legenda e imagens de “A mesma rosa amarela” e “Soneto” extraídas do portal vermelho: http://www.vermelho.org.br/noticia/142737-1

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Convoco músicas, canções,...

(por Magno Córdova)

...porque elas chegam a mim e me tomam de assalto.


Não sou de reagir a assaltos. Muito menos desse tipo. Até mesmo porque, a experiência tem mostrado que os desdobramentos dessas situações de escuta tendem a me convencer de que sigo por um rumo certo. Não o único, claro, mas certo caminho. Certo no sentido de que a canção passa de uma possibilidade de saber disponível, inerente na origem de tudo, para uma condição cada vez mais pertinente e desejável de instrumento que altera rotas, preenche vazios, revolve certezas e consolida convicções.


Por isso essa fala conduzida, conduzida consciente e que se faz e se quer crítica. Que faz dar o salto de ida, feito a língua que um almeja, e o de volta, feita a mulher do outro, que coincidem em mim, em um reconhecimento de paternidade/maternidade (ou seria fraternidade?) - dentre inumeráveis - que não há de se negar e que, por si, se justifica.

Não falo inglês nem francês; não falo bizantino nem hebraico. Falo esse canto que, no muito, é esperanto quase esperança, que não perde extensões de sua latitude, por ser uma fala que, aparentemente unívoca, abrange sem se querer totalista, porque inesgotável.


Aciono música, canções, e não penso numa existência que não seja assim, com cada um buscando sentido e autonomia para escolher o instrumento que lhe apetece. Canção também pode ter esse papel, esse significado.

Escolho música! E reagir a seus assaltos seria negar o que sempre esteve e que se afirmou como opção. Se assim fosse, com resistência, estaria a negar a própria natureza e a minha inserção nela, natureza.
Seria, assim, diga-se, uma etnia comum, na sola do pé descalço seu pigmento matriz. Chão.


Opto por música, por canções, como decisão particular que redimensiona o corpo, que o coloca no mundo. Abriga, assim, uma dupla função: a canção permite percorrer o lugar que povoo e que também é o lugar onde o outro habita.  Daí que desponta sua dimensão coletiva. Sou uma isca cada vez mais fácil e, a cada escuta, mais exigente neste campo.

Exijo canções e música e texto e poesia e sou eu que decido o que fazer com eles e com elas e por eles e por elas.


Leio o mundo como um repertório que encontra na palavra, soprada por qualquer sopro, um vento vindo do itinerário do peito, do profundo mistério, um bom veículo.

E embarco.


domingo, 24 de janeiro de 2016

Paulinho da Viola: de letra

(por Magno Córdova)

A palavra é Paulinho. 
Paulinho da Viola.
Pra dizê-la, João invoca! 
João evoca!
João invocado.
João de Cabeça de Nego
João, como um João qualquer
João de sangue afro-tupi
A palavra Paulinho baixa 
na mesma oca
No chão da taba
Do terreiro
Na boca
(Aqui, João, ímpar! Paulinho lá!
Extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=lPGo171UliA)

Cabeça de nego
(João Bosco) 

Cacurucai eu tô
Perrengando tô
De Aniceto é o jongo
Ô Donga Sinhô
O Sinhô Donga
É Gagabirô
Gagabirá
Ô zimba cubacubá
Ô zimba cubão
Zimba cubacubá
O zimbacu
Ô João da Bahiana!
Ô Candeia!
Ô Ya Quelé Mãe
Ô Mãe Quelé Mãe
Ya Quelé Mãe
Ô Clementina!
Ô Yaô Pi
Ô Piaô Xi
Yaó Xi
Ô Pixinguinha!
Ô Batista de Fá
Ô ária de Bach
Choro de Paulo da Viola!
Ô zimba cubá
Ô zimba cubão
Silas de Oliveira Assumpção!

Elifas Andreato retrata em tela a temática musical de Paulinho

Paulinho é de 42, mesmo ano de Gil, de Caetano, de outros tantos.
O pai de Paulinho, César, era violonista, tocava no Época de Ouro e chamava os amigos para tocar em casa.
O menino treinou seu ouvido ouvindo em sua casa o pai, Pixinguinha, Jacob e outros desse time de onças.
Mas o pai de Paulinho não queria o filho músico ("perguntou-me se eu queria estudar filosofia, medicina ou engenharia. Tinha eu que ser doutor"). 
Mesmo assim, o rapaz se envolveu de tal forma com a música e o samba que foi lá pra Jacarepaguá reunir gente e sambar, tocar cavacos e violões. Compor.

(extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=LgyhLaSog0g)

A voz do morto
(Caetano Veloso)

Estamos aqui no tablado
Feito de ouro e prata
E de filó de nylon

Eles querem salvar as glórias nacionais
As glórias nacionais, coitados

Ninguém me salva
Ninguém me engana
Eu sou alegre
Eu sou contente
Eu sou cigana
Eu sou terrível
Eu sou o samba

A voz do morto
Os pés do torto
O cais do porto
A vez do louco
A paz do mundo
Na Glória!

Eu canto com o mundo que roda
Eu e o Paulinho da Viola
Viva o Paulinho da Viola!
Eu canto com o mundo que roda
Mesmo do lado de fora
Mesmo que eu não cante agora

Ninguém me atende
Ninguém me chama
Mas ninguém me prende
Ninguém me engana

Eu sou valente
Eu sou o samba
A voz do morto
Atrás do muro
A vez de tudo
A paz do mundo
Na Glória!

Paulinho ficou amigo dos grandes que o ouviam e o queriam por perto.
Foi parar em Madureira. Foi como compositor.
Começou a fazer canções na primeira metade dos 60.
Estudou contabilidade e trabalhou em banco, onde reconheceu, certa vez, Hermínio Belo em sua agência bancária.
Ficaram amigos e parceiros.
Conheceu Cartola por esse tempo também.

Acompanhou muita gente boa no Zicartola, ao cavaco ou violão.
Foi tocando com Zé Keti que este lhe incentivou a cantar suas próprias músicas.
Foi também Zé Keti, junto com Sérgio Cabral, quem acrescentou a seu nome artístico o "da Viola". Ficou!

Juntou-se a Elton, Nelson Sargento, Nescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Zé da Cruz, Oscar Bigode (seu primo, que já o havia levado para a Portela, após Jacarepaguá).
Juntou-se, em morada, a Capinam, Gil, Caetano e mais outros tantos, quando foi pro Solar da Fossa, em 65
(Batatinha, um mestre do samba de Salvador. Extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=JXOth-JRoRs)

Ministro do samba
(Batatinha)

Eu que não tenho um violão
Faço samba na mão
Juro por Deus que não minto
Quero na minha mensagem prestar homenagem
E dizer tudo que sinto
Salve o Paulinho da Viola
Salve a turma de sua escola
Salve o samba em tempo de inspiração

O samba bem merecia
Ter ministério algum dia
Então seria ministro Paulo César Batista Faria (bis)

Paulinho canta, compõe, toca com elegância e simplicidade.

Impressiona que Paulinho tenha sido reverenciado não só pelos pares de sua mesma geração, posto sempre no patamar daqueles que o ensinaram na casa do pai, ainda pequeno.
Paulinho aparece contundente, indisfarçável, na homenagem feita por compositores reconhecidamente talentosos de outros nichos referenciais.

(Elza Soares, de Itamar, por Elza: Paulinho está aí.Extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=VWG2dPI2GIY)

Elza Soares
(Itamar Assumpção)

Desde que me entendo por gente
Elza soares da vida
Das armas brancas, químicas quentes
Música é a preferida
Eu disse
Dar armas brancas, químicas, quentes
Música é a preferida

Desde que me entendo por gente
Eu sambo, eu faço o que gosto
My soul is black, meu sangue é quente
Eu quando gosto, me enrosco
Eu disse
My soul is black, meu sangue é quente
Eu quando gosto, me enrosco

Desde que me entendo por gente
Difíceis momentos tristes
Vivus vi veri vici noutros continentes
Eu sei que o amor resiste
Eu disse
Vivus vi veri vici noutros continentes
Eu sei que o amor resiste

Desde que me entendo por gente
Eu saquei que Jesus Cristo
Morreu na cruz por nós, inocentes
Pra provar que a vida é (*)

Desde que me entendo por gente
Carioca, carica, carnaval
Sol, futebol, mulher diferente
Mãe humanamente igual

Desde que me entendo por gente
Donga, Ataulpho, Cartola
Ari Barroso, Assis Valente
Mano Décio, Paulinho da Viola

([*] não foi possível decifrar o termo/palavra cantado por Elza, assim como não foram encontrados registros da letra original, nem na internet nem na própria Caixa Preta, em cujo encarte relativo ao CD que possui a música de Itamar não aparece o texto da canção na íntegra, tendo sido excluídas suas três últimas estrofes).

Paulinho é também cultuado pelas gerações que vieram na sequência do seu trabalho, assim como dos que vieram antes dele.
Não poderia ser de outro jeito.

Ele é um desses mediadores musicais sem brechas, que nos põe numa perspectiva muito mais longeva do que nosso tempo linear permitiria. 
Que ecoa tanto em sua própria voz o turbilhão informativo de quem fez - e dele próprio como fazedor - quanto nas vozes dos que o ouvem e o dão ensejo, projetando por todo lado o reconhecimento de sua generosidade artística!

Aliás, não impressiona!
Emociona!