terça-feira, 17 de agosto de 2021

Izaíra Silvino: bandolins e bando de passarins



Fui levado a conhecer Izaíra Silvino por intermédio da professora Mércia de Vasconcelos Pinto, no contexto de levantamento de fontes para a realização de minha pesquisa, então em andamento, no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília. 
O ano? 2004. 

Eu, aprovado com um projeto de pesquisa naquela universidade, dentro de um campo da História Cultural: ali, na labuta da História da Música realizada no Brasil. 

O locus, desde o início, passava pelo Nordeste, com uma referência clara no território e no tempo.
Uma rápida verificação no disco do I Festival de Música Aqui no Canto, realizado em Fortaleza em 1969, pode nos dá uma ideia da atuação artística do grupo que se encaminhou para Brasília no início dos anos 70/fins dos 60. 

Rodger Rogério está presente naquele LP como intérprete da música “Fox-lore”, composição sua em parceria com Dedé Evangelista, e como autor da canção “Esquina predileta”, interpretada por Ray Miranda;

por sua vez, Dedé aparece novamente na canção “Encabulado”, feita em parceria com o compositor e arquiteto Braguinha, interpretada pelo mesmo Ray Miranda;

Raimundo Fagner aparece no disco como co-autor da música “Luzia do Algodão”, composta em parceria com o artista plástico Marcos Francisco e gravada por Izaíra Silvino;

Mércia Pinto esteve na organização do festival, responsabilizando-se pela transcrição para a partitura das músicas inscritas. 

Para a musicista Izaíra Silvino, primeira voz a interpretar uma canção de Fagner em disco, a saída dessas pessoas de Fortaleza para Brasília foi decisiva para que elas próprias tomassem consciência do alcance e da qualidade dos seus trabalhos na área cultural. 

Izaíra Silvino atuou como professora de música em todo estado do Ceará, mesmo morando em Brasília, cidade que ela só adotou após passados trinta anos da experiência dos companheiros. Bandolinista desde a infância em Iguatu, sua terra natal é Baturité, também no estado do Ceará. Percorreu várias cidades do estado na medida em que seu pai, militar, era transferido para novos encargos da corporação.

Conheceu Antônio Carlos Belchior ainda em Sobral, na adolescência. Chegou na capital do estado muito jovem. Em Fortaleza, passou a estudar violino e a dar aulas de Educação Artística em escolas públicas, quando teve por aluno Raimundo Fagner, que se tornou seu amigo. 

Sempre esteve ligada aos movimentos artístico-culturais do estado do Ceará. 

Em sua avaliação, as duas grandes lideranças dos movimentos culturais do Ceará na época se deslocaram para Brasília e com isto atraíram muita gente de lá para a capital: Rodger Rogério e Fausto Nilo eram, para ela, as pessoas que possuíam essa liderança legítima reconhecidamente dentro da universidade, entre o poder público e na sociedade como um todo. 

Sua opinião sobre esse processo migratório do grupo que se dirigiu para Brasília possui um elemento crítico que está no centro dos nossos interesses: "Eu acredito que eles mesmos não acreditavam que isso era uma força. Que a arte deles fosse de fato arte. Porque nós temos ainda uma cabeça muito colonizada. A gente precisa que quem esteja fora reconheça que nós somos grandes pra poder a gente dizer que é. Aí, eu acho que a vinda deles pra Brasília, essa cidade que vinha gente de toda parte e que eles conseguiram ser eles mesmos e a arte deles ser, também, junto desse povo todo, eles acreditaram: "Rapaz, isso aqui que a gente ta fazendo é sério mesmo".