terça-feira, 10 de julho de 2018

Há uma cabaça d'água além do quintal

(por Magno Córdova)

Nada li antecipadamente sobre seu trabalho, por decisão. Apenas soube que havia. E que era bom.

A primeira coisa ocorrida com a escuta de Alberto Salgado foi a sensação de pé fincado no chão. A segunda foi voo.

O chão, às vezes seco. Água do mar, água Doce, seja como metáfora ameaçadora, seja como escassa, em ameaça real. E gente ao redor, na beira, na jangada, que ainda assim se permite pescar sonhos. Sonhos de pescar e alçar voos, apesar de gaiolas, em ventos de anunciação, transmissores de amores e outras dores.

Foi “Marinheiro”, do disco Além do quintal, a primeira de sua autoria que ouvi cantada por ele. Ali, minha atenção já foi chamada pelo equilíbrio geral do corpo da canção, desde a entrada do baixo na abertura até a emissão da voz isolada ou sobreposta em duo de Alberto, cujo timbre me pareceu ter nascido praquele arranjo, praquela estrutura sonora, praquela música. Tudo absolutamente inteiro, pleno, em seu lugar. E, ao mesmo tempo, surpreendentemente avassalador na força comunicativa, no impulso projetado, na perspectiva em movimento abarcada.


As sensações iniciais apontadas não se deram em sobreposição uma à outra, não foram etapas em processo ou por substituição: conjugaram-se sem conflito, complementares. A síntese foi o tipo de observação a mais abrangente de paisagem encontrada que consigo realizar: o olhouvido conduzido à distância vista do alto e percorrendo orientado pelo experimento do solo pisado, roçado, caminhado, descalço.

Me vi ali diante de idioma musical que me punha nesse duplo e simultâneo exercício: de ouvinte passivo em processo de conhecimento e de agente identificador de sentidos havidos, referenciais empíricos e emocionais da experiência de audição tida.

O que em seu trabalho ativou e tem ativado em mim, no entanto, ultrapassa questões de ordem emocional muito claras e bem elaboradas, justificadas em territórios perenes de qualquer alçada. O leito desse rio, diferentemente do que fizemos com o nosso Doce, é caudaloso e cristalino. Por isso, múltiplo. Também nele não se pode dizer que seja algo atrelado a argumentos exclusivamente acionados por essa instância maior que é a memória, ao menos em seu sentido mais imediato de conexão com vivências palpáveis comprovadas e inequívocas. Sua estrutura a mim me chegou há pouco, encontrando-se aberta tanto à criação quanto ao reconhecimento recíproco.

O encaminhamento involuntário de apreensão daquela primeira escuta, do tipo que não permite dispersar-se em uma nota ou um segundo sequer logo no contato inaugural com a obra musical, costuma criar uma expectativa - fundada nas hipóteses e conexões aqui descritas - de encontrar-se diante de trabalho matricial.

A par do novo regime de escuta instaurado, fragmentado, predominantemente solitário em fones de ouvido, dissociado de conexões imediatas do real ao redor do ouvinte; ou, antes, atrelado quase sempre a um roteiro visual/virtual imposto por videoclipes e mesmo por apresentações do artista em palco, ter em mãos o Cabaça d’água recuperou o lugar que historicamente me pôs como ouvinte até onde me encontro, pilar de minha formação como plateia não passiva. Ao menos com estímulo e liberdade pra pensar criativamente diante da obra que me chega aos ouvidos, diante do conhecimento.


Nesse sentido, consideradas as novas apropriações e contornos do ritual que envolve a experiência formativa de ouvinte, tendentes a levar tudo a se transformar em musak, o contato com o disco físico de Alberto, aquele que foi premiado numa categoria regional a meu ver inexplicável, me expôs um quadro amplo de país. Recife, Catolé, Angical, Copacabana, Mariana estão ali. Ali nos limites desse distrito literalmente federal em cuja capital há sobradinhos bem armados atravessados por leitos melódicos admiravelmente versáteis construídos sob "o arame, o chocalho o vintém e o pedaço de pau", de Pastinha, de Besouro, de Naná.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Uma rede no peito, um berro

(por Magno Córdova)

Houve uma camiseta que circulou por BH durante um tempo com dizeres e imagens discretos, quase imperceptíveis, estampados na altura do peito, possíveis de serem lidos e vistos em seus detalhes apenas pelos que se detinham em frente àquele que a estava usando.

A imagem que acompanhava os dizeres chamava um pouco mais atenção do que as palavras escritas, por estas serem ainda mais miúdas: tratava-se de um casal de beija-flores copulando, protagonizando aquilo que poderia ser chamado de "transa esvoaçante". 


Da frase logo abaixo da imagem não me lembro exatamente, mas seu conteúdo era algo do tipo: "Derrubem as matas, poluam os rios, destruam as florestas e podem ir todos morar nos quintos dos infernos!", ou em endereço mais preciso e menos singelo.

Um desabafo individualizado que surtia efeito vibrante naquele que o apreendia: um misto de felicidade, orgulho e consciência política - em seu sentido mais pleno. Sem contar o riso incontido pelo inusitado da dimensão íntima, evocada na sexualidade em pleno voo daqueles pássaros insuspeitos, quase sagrados. Era a inserção do indivíduo no comum coletivo, aludindo à intimidade privada - mesmo que entre beija-flores.

Junte-se a isso a incontornável sensação de alívio equivalente a um berro dado que, à época, motivou em mim uma paráfrase mental associando a situação com o conteúdo do disco e da música de Ednardo: "Do boi só se perde o berro!". A perda como ganho, como algo que não só se mantém, mas mantém e retoma a dignidade e a existência dos corpos - dessas "vacas" retalhadas que somos, fadados à mutilação pelo consumo. O berro como único item desprezado, não devorado pela indústria que, entretanto,  torna-se único instrumento capaz de detê-la por denúncia, contra seu estrago.

(Dá série Cupins, de Humberto Espíndola, de 2002. Cf.: http://www.humbertoespindola.com.br/001-index_frameset.htm )

O contato com essa camiseta representava bem mais do que um dia inteiro de jornalismo televisivo, em termos de mobilização e eficácia à ideia de pertencimento. E é de se pensar se há, hoje em dia,  mensagem tão sutilmente subliminar e ao mesmo tempo reta sem qualquer filiação institucional a ela associada. Não se tratava ali de defesa e construção ideológica, mas sim do óbvio mais elementar: a defesa da própria existência. Engendrava o privado no público e vice-versa, sem escapatória.

Se comparado com as novas formas de comunicação, aquele outdoor errante, diminuto, no peito, soa hoje como ingênuo recurso e se situa na longa duração da primordialidade das redes com as quais nos habituamos. Tomado isoladamente, no entanto, seus efeitos parecem menos banais e mais duradouros, prolongando em reflexo sua permanência, projetando-se anacronicamente no tempo sem memória da virtualidade. 

Ecoa, assim, o que fica e dignifica, como o Berro do compositor cearense na canção evocada (a letra se encontra logo em seguida ao vídeo):

(vídeo extraído do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=wfYqXn00Onc )

BERRO
(Ednardo)

Os novos, os novos
Corações aos pulos
As novas, as novas
Transações e sustos
As velhas câmeras não fotografam minha emoção
As velhas câmeras não fotografam minha emoção 
Sentados num banquinho alto 
Microfone e violão
Quilografados comportadamente, somos umas vacas
Retalhados neste açougue, atenção! 
Os novos, os novos 
Patins, coxão e filé
As velhas coisas, as velhas coisas 
Pelancas, ossos, quem quer? 
Do boi só se perde o berro 
Só se perde o berro e é 
Justamente o que eu vim apresentar
Justamente o que eu vim apresentar

quinta-feira, 29 de março de 2018

Uma onda

(por Magno Córdova)



Fala visceral, palavra, é da beira o batismo da esfera que tudo aqui abarca.

“Vamos dar volta por cima
Volta e meia vamos dar”

Coco De Roda (Foto: Acervo História de Alagoas)

Distante, mas a caminho do mar, a perspectiva é ribeirinha, da beirada de um que nele deságua.

“Agora eu vou mudar a rima vou diluir meu verso”

De mamona, de piaba, do ingá e do umbu, traz cheiro de terra da ladeira que sobe pra praça, do pé que marca no chão, que vai pra rua do mercado. Prenúncio que dá no pau e no couro do tempo.

“Pra segurar o tombo nego tem que ser ligeiro”

Junção diversa sem que os amparos evocados sejam correlatos. Surgem sem cronicidade ou ordem de aparição, sem prioridade uns sobre os outros.

“O mar não tá pra peixe puxa a loa eu te peço”

Coerência incomum o que a costura neles inscrita projeta de sentido vívido ao alcance do presente.

“A dança do dia a dia é osso duro, meu irmão”

A força do elemento evocado por si só alcança uma personalidade combativa que antes não possuía, adotando pra si um sentido coletivo que impregna o caráter lúdico espontâneo de sua origem.

“Dança, dança cirandeira pra canoa não virar”

O timbre, a pele preta, o requebro e o gingado, o compasso, a força descomunal parida da suposta fragilidade de brincadeira de roda pelas ruas da cidade que ficou pra trás... A semente do chocalho, o apito, a bola e o sopro no bucal... tudo. Até a rodagem.

“Não temer o tempo ruim, ter alma de guerreiro”

Como se o elétrico da roupa sonora apenas ecoasse por aquisição o tambor do universo de seres similares que na memória do corpo - e da própria canção – habitam, aquáticos.

“Se quiser cantar comigo fique atento fique esperto pro refrão”

Faz crer-se apagar tudo aquilo que não presta, cantada em coro por aqueles que assim a vislumbram.



Lá vem a onda
(Escurinho e Alex Madureira)


A onda quebra lá em Paraíba
Dança ciranda na beira do mar
O vento sopra os cabelos da morena
Brilhando na luz do luar
Estrela do mar vem mais eu
Vamos dançar cirandá
Brincar ao redor da fogueira 
Se embalando pra lá e pra cá.

Ô, ô, ô, ô.
Ô, ô, ô, ô
Ô, ô, ô, ô 

Agora eu vou mudar a rima vou diluir meu verso
Se quiser cantar comigo fique atento fique esperto pro refrão
A dança do dia a dia é osso duro meu irmão
No balanço dessa onda nessa praia eu te confesso
O mar não tá pra peixe puxa a loa que eu te peço
Dança, dança cirandeira pra canoa não virar

Lá vem a onda quebrando na batida do ganzá
Pra segurar o tombo nego tem que ser ligeiro
Não temer o tempo ruim, ter alma de guerreiro
Brincar no nevoeiro até o dia clarear
Ciranda cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar volta por cima
Volta e meia vamos dar 

Ô, ô, ô, ô.
Ô, ô, ô, 
Ô, ô, ô, ô


  


domingo, 11 de março de 2018

Saúde pública no Brasil: tá certo, Doutor!

(por Magno Córdova)

Texto produzido e apresentado por mim no Programa Outros 500, levado ao ar pela Rádio Inconfidência FM de Belo Horizonte nos anos 2001/2001.

O Rio de Janeiro deveria deixar de ser o território da barbárie e da escravidão, ao se tornar sede provisória do império lusitano. A imagem que os europeus tinham do principal porto do país deveria se transformar com a chegada de dom João VI. Foram determinadas mudanças na administração pública colonial e a capital se tornou o centro das ações sanitárias. Por ordem da corte foram fundadas as duas primeiras escolas de medicina do país: Rio de Janeiro em 1813 e Bahia em 1815. Após a independência, D. Pedro I ordenou a criação da Imperial Academia de Medicina, órgão consultivo do Imperador em questões ligadas à saúde pública nacional e que reunia os principais clínicos da cidade. O grande desafio enfrentado pelos médicos do império era evitar as doenças infecciosas que atingiam a população do Rio e se espalhavam por todo o país através dos viajantes. As maiores epidemias cariocas do período foram de varíola, febre amarela e cólera. Levantaram a hipótese de que essas epidemias seriam causadas por navios vindos do estrangeiro. As embarcações suspeitas de transportarem passageiros adoecidos eram submetidas à quarentena, em ilha próxima à baía de Guanabara. A prática do uso da vacina contra a varíola – criada na Inglaterra em 1796 a partir do pus retirado de bois infectados – foi uma exigência que teve rápida aceitação. Uma outra estratégia era convencer a população a se refugiar nas regiões serranas em períodos de crise. A quem não podia sair da cidade, era recomendado evitar o consumo de bebidas e frutas geladas que, segundo diziam, facilitavam as infecções. De tempos em tempos, os agentes de saúde convocavam a milícia a disparar tiros de canhão para movimentar o ar e afastar o perigo dos “miasmas” espalhados pelo céu da cidade. Por “miasmas” entendiam ser o ar corrompido que, vindo do mar, pairava sobre a capital.

Uma indicação para leitura é o livro “História da saúde pública no Brasil”, de Cláudio Bertolli Filho. Deixo aqui uma canção que, distanciada no tempo da abordagem acima - lançada na década de 1970 - trata, no entanto, de questões que dialogam com ele.

Tá certo, doutor (Gonzaguinha)

É um atentado à moral e aos bons costumes vigentes, por certo inconveniente
Deixar este homem doente perambular pelas ruas a cometer tais falcatruas
Incompatível com os estatutos dessa gafieira,
Dançar dessa maneira, desrespeitando o salão, desfigurando o padrão
Fere as normas do edital de formação da nossa firma atual

Esse homem está enfermo, nem precisa exame sério, seu mal está constatado
Depressa, põe no hospital!

Deve ficar bem isolado, em quarto bem fechado
Sem portas ou janelas, pois pode ser contagiante
Dieta mais que rigorosa, medicação bem adequada e muita observação
Pra que não haja agravantes
Em tempo hábil deve ir até o centro de controle para testar sua boa condição,
Se está fechada a ferida

Seu caso deve ser anotado, o seu mal ser vigiado e lhe requer muita atenção
Seu caso deve ser anotado, o seu mal ser vigiado e lhe requer muita atenção

Pois traz perigo à nossa vida
Não dou amparo, nem guarida
Dou guaraná, com pesticida
Pra acalmar minha dormida
Não tô afim de pôr em risco a minha condição


domingo, 4 de março de 2018

São João Del Rey - Pilar, Mercês e Liberdade

(por Magno Córdova)

Foi a escuta da canção "Liberdade", da parceira João Bosco e Cacaso - lançada no álbum Na onda que balança (1994) -, que motivou a publicação desse texto aqui. 

"Liberdade" é dessas canções que promovem o caminhar por ruas de cidades mineiras - paisagens mineiras que se conhece ou mesmo onde nunca se esteve - fora da lógica pragmática de percursos andarilhos dos grandes centros, quando neles se habita: prática que tem se tornado quase que exclusiva nos espaços urbanos das grandes cidades. Sua sonoridade evoca o ritmo do passo que o batimento cardíaco supõe ideal pra essa experiência de conhecimento, pelo seu compasso; e os instrumentos, incluída a voz de João, informam a aparição e o desenho, sob o olhar, de cada elemento que compõe a paisagem. Mais do que a cidade real, diante dos olhos, a música aqui desenha a cidade imaginada, conjugada (ou não) com a cidade lembrada, a dos fragmentos de memória. Dessa forma, impõe-se serena a resistência do olhar atento, contido e perspicaz do observador.

Daí, as palavras "pilar" - como estrutura, como coluna - e "mercês" - como graça, como proteção -, impregnadas de certa religiosidade no contexto aqui tomado, surgirem como nomes que conduzem esse duplo, de transeunte ao mesmo tempo que sedentário, capacitado à apreensão da horizontalidade que a cidade oferece, dela fazendo parte. Liberdade, nesse caso, mais do que palavra de insígnia de bandeira, é a fusão do corpo da cidade com o corpo de quem a pratica, esse lugar de "gente a passar, muitas cabeças".

Percorrer a cidade pela música - seja pela lembrança, seja pela imaginação - é um rico exercício.

Para quem chegou até aqui, deixo "Liberdade", de João e Cacaso. Em seguida, apresento o referido texto. 

Liberdade
(João Bosco e Cacaso)

Em todo sonho
É sempre um céu azul
Em todo sonho
É sempre um mar sem fim
Só mesmo um louco
Pra sonhar assim
Sonha viver
Em liberdade

Meu canto é livre
E a paixão sem fim
O meu lugar
É não mudar daqui
Sei que meu sonho
Vai viver por mim
Mesmo que tarde
A liberdade

Luz da Matriz
Sino a tocar
Luz das Mercês
Luz do Pilar
Gente a passar
Muitas cabeças
Gente a passar
Muitas cabeças


(vídeo extraído do Youtube. Trata-se do único registro contendo a versão de "Liberdade" mencionada, a que está presente no repertório do disco Na onda que balança, de João)

Assim como outro material publicado aqui no Rabiscos de Ouvido, as informações contidas no texto representam parte do conteúdo de uma ficha por mim organizada, na condição de consultor em projeto intitulado Promoção da diversidade e do diálogo intercultural entre o Brasil e o exterior por meio do turismo cultural, realizado em 2010, para o Ministério do Turismo, através da Embratur.

Portanto, devem ser consideradas no contexto do ano em que o projeto foi realizado e, também, tendo em vista o público prioritário a que foi destinada.

SÃO JOÃO DEL REY - Minas Gerais


O povoamento da região onde hoje é São João Del Rei começou no final do século 17 com o bandeirante Tomé Portes Del Rei. Com ele, teve início a atividade de travessia do Rio das Mortes, que tem esse nome por ser muito difícil de ser atravessado. O local ficou conhecido com o nome de Porto Real da Passagem. Em 1702, descobriu-se ouro no local, que deixou de ser apenas um ponto de apoio para ser um importante centro de mineração. Com a corrida do ouro, deflagrou-se o conflito conhecido como “Capão da Traição”, dentro da Guerra dos Emboabas, no ano de 1709. Nessa época, o lugar era conhecido como Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes. Em 1713, o governador Dom Brás Baltazar da Silveira elevou o arraial à categoria de Vila com o nome de São João Del Rei, em homenagem a Dom João V, rei de Portugal, e a Tomé Portes Del Rei.  

Por estar localizada na fértil região do Campo das Vertentes e após a decadência da exploração aurífera, a cidade teve sua economia refeita com a atividade agrícola. No ano de 1838, foi elevada à categoria de cidade. Ainda durante o século 19, o município participou dos movimentos Sedição Militar de Ouro Preto e Revolução Liberal de 1842. Em 1881, a cidade recebeu a visita de Dom Pedro II para a inauguração da estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas.

Em suas ruas estão alguns dos exemplares mais expressivos da arquitetura colonial mineira. Há as velhas pontes de pedra em cantaria da Cadeia e do Rosário, e o chafariz da Legalidade, popularmente conhecido como Chafariz dos Arcos. Construído em 1834,  o chafariz comemora o fim do motim ocorrido em 1833, quando a capital “legal” de Minas foi transferida para São João Del Rei. A cidade também é famosa por suas ricas igrejas, como a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, com seus altares bordados a ouro, e a de São Francisco de Assis, localizada no meio de uma praça com palmeiras imperiais centenárias. Há, ainda, as Igrejas de Nossa Senhora do Carmo, de Nossa Senhora das Mercês e de Nossa Senhora do Rosário. Possui diversos exemplares da arquitetura eclética e de outros estilos dos séculos 19 e 20.

É possível realizar um passeio de maria-fumaça pela Serra de São José até Tiradentes. Há boas compras de artesanato nos municípios vizinhos de Prados, Coronel Xavier Chaves e Resende Costa.

Na culinária, o feijão tropeiro, o frango ao molho pardo, o tutu de feijão, a galinha caipira, o angu e o torresmo são algumas das iguarias encontradas na região. A cidade é ainda mais conhecida pelos queijos, pelo pão de queijo e bolinho de feijão ou pela combinação de ambos, conhecido como tejucano. As sobremesas são as amêndoas e os confeitos de açúcar com amendoim ou coco, distribuídos às crianças quando participam das procissões vestidas de anjos, uma tradição local.

Em 2007, recebeu o título de Cidade Brasileira da Cultura, um projeto instituído pela ONG Capital Brasileira da Cultura, a partir do modelo do projeto Capital Europeia da Cultura, que nasceu na Grécia em 1985. Dentre os principais aspectos destacados que justificaram o prêmio, estão:

  • a importância de seu patrimônio histórico, em que se destacam inúmeras igrejas de estilo barroco e neoclássico, com altares grandiosos e requintados em detalhes arquitetônicos e ornamentais;
  • os marcos da arquitetura colonial mineira como o prédio sede da prefeitura, a casa do barão de Itambé, os solares do barão de São João del-Rey, da baronesa de Itaverava, dos Lustosa, dos Neves, o casario da rua Santo Antônio, dentre outros;
  • a efervescência cultural da cidade, com destaque para as duas orquestras bicentenárias, a Lira Sanjoanense e a Ribeiro Bastos que com suas músicas sacras barrocas alimentam a tradição religiosa local;
  • a semana-santa em que são revividos todos os rituais centenários, como celebrações em latim, procissões e ofício de trevas;
  • as festas populares como o carnaval, a folia de reis e os grupos de congados que também têm destaque na rotina cultural local;
  • o sistema de comunicação único de toque de sinos;

A cidade dos sinos, como é conhecida, também foi escolhida por ser referência no turismo de estudos e intercâmbio. A Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) foi considerada uma forte aliada, pela tradição em apoiar essa prática.

São João Del Rei integra o roteiro do circuito “Estrada Real Cultural”, juntamente com Belo Horizonte e Tiradentes (em Minas Gerais), Parati (no Rio de Janeiro), São Luís do Paraitinga e Cunha (em São Paulo).

Principais festas e eventos

Serenata Natalina: Anualmente, em dezembro. Durante dois dias, um grupo toca em diversos pontos da cidade. Em diversos pontos da cidade.

Carnaval: Anualmente, em fevereiro ou março. Festa popular. No centro da cidade.

Festa do Divino: Anualmente, em junho. Encontro de congadeiros de Minas Gerais. Na Matriz do Senhor Bom Jesus de Matozinhos.

Procissão de Nossa Senhora do Carmo e Novena: Anualmente. Festa popular. Na Igreja Nossa Senhora do Carmo.

Festa de Nossa Senhora da Boa Morte: Anualmente. Festa popular. Na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar.

Festa de Nossa Senhora das Mercês: Anualmente. Festa popular e religiosa. Na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar.


(Festa em homenagem à santa atrai milhares de devotos todos os anos – Foto Gazetaextraída de http://www.gazetadesaojoaodelrei.com.br/site/2014/09/n-senhora-das-merces-e-celebrada-por-fieis/)

Festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Maria Santíssima: Anualmente. Festa religiosa. Na Igreja de São Francisco de Assis.

Comemorações do Aniversário da Cidade: anualmente, em 8 de dezembro, comemora-se a fundação da cidade em diversos pontos da cidade.

Festa de Nossa Senhora do Rosário e Natal: Anualmente, em dezembro. Festa religiosa. Na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Anuário Musical São João Del Rei: Anualmente, em julho e agosto. Evento musical. Nas ruas e Igrejas da cidade.

Semana Santa: Anualmente, em março ou abril. Evento religioso. Diversos pontos da cidade.

Inverno Cultural da UFSJ - São João Del Rei: Anualmente, em julho. Evento cultural.

A cidade é famosa pelo artesanato em estanho. Há também esculturas de madeira, peças em tear como colchas, mantas para sofá, tapetes e cortinas. Em Coronel Xavier Chaves as mulheres retomaram a tradição dos abrolhos, tipo de renda trançada com as mãos, produzindo toalhas de bandeja, panos de prato e outros produtos. Há ainda a produção de cachaça e artesãos que produzem trabalhos em pedra-sabão.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

VOU ATRÁS DO RASGADINHO!!! (Aldeiaracaju)

(por Magno Córdova)

O Aldeia Do MUNDO presta, nessa madrugada de sábado, abrindo o Carnaval, uma homenagem à cidade de Aracaju aqui em seu perfil.
O motivo foi muito admirar a marcha aqui destacada, incluída no repertório de uma das edições do programa.
O texto sobre a cidade é um fragmento de trabalho por mim organizado como consultor em projeto do Ministério do Turismo/Embratur, no ano de 2010.
"O sol está presente em boa parte do ano na orla de 30 km de praias da cidade, como as de Coroa do Meio, Artistas, Atalaia, e Aruana.
Aracaju, capital sergipana, nasceu na Colina de Santo Antônio, na zona norte, de onde se aprecia o encontro do Rio Sergipe com o Oceano Atlântico.
O seu nome significa cajueiro dos papagaios. Foi fundada em 1855, com a finalidade de ser a sede do governo, transferido da cidade de São Cristóvão, no interior. Sua localização à beira-mar forçou os senhores de engenho do Vale do Cotinguiba, maior região produtora de açúcar da província, a exigirem a mudança da sede para facilitar o transporte do produto.
Oficialmente, foi a segunda cidade planejada do Brasil. Sua construção foi um desafio à engenharia, face à sua localização. O desenho urbano foi elaborado por uma comissão de engenheiros, tendo como responsável Sebastião Basílio Pirro.
Naquela época, as cidades adaptavam-se às condições topográficas naturais, estabelecendo irregularidades no panorama urbano. No entanto, o engenheiro Pirro se contrapôs a essa irregularidade e Aracaju foi uma das primeiras cidades no Brasil a ter essa tendência geométrica.
O centro do poder político-administrativo, atual Praça Fausto Cardoso, foi o ponto de partida para o crescimento da cidade. As ruas foram arrumadas geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, todas direcionadas às margens do rio Sergipe".
Da Praça Fausto Cardoso à Praça da Bandeira vou cantando a marcha-bolero (!?) e seguindo o Rasgadinho

(Praça da Bandeira - Aracaju)

Para ouvir a Velha Marcha do Rasgadinho, clique aqui: https://soundcloud.com/deilsonpessoa/velha-marcha-do-rasgadinho-1

Velha Marcha do Rasgadinho
Deílson Pessoa com participação de Monara
Eu preciso te encontrar, atenda o celular
Levante a sua mão em meio à multidão
Eu vou seguir o trio mas quero ter voce por perto.
Qual? Te sigo no olhar zoando até molhar
Quem tem o seu amor precisa se cuidar
Porque o carnaval é esse sentimento aberto
Acho que vi voce sorrir pra mim
Acho que não! Acho que me perdi...
A chuva cai, acho melhor assim
Mas se voce me mostrar aonde está
Pode deixar que eu vou até voce
Eu vou, eu vou pra te buscar.
Eu vou abrindo o meu caminho.
Eu vou, eu vou no Rasgadinho
Dançando frevo e marcha pela tradição
Eu vou pegar na sua mão
Eu vou
Mas se não me encontrar
Depois da brincadeira vai na praça da bandeira que eu estou a te esperar!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

TIRANDO DÚVIDAS: candidatura à Câmara de Fomento ou ao COMUC?

(por Magno Córdova)

Estão abertas as votações para a Câmara de Fomento à Cultura Municipal (CFCM) e para o Conselho Municipal de Política Cultural (COMUC). 

Os dois processos eleitorais são importantes para a sociedade civil como um todo. Há, no entanto, diferenças relacionadas à capacitação e inscrição dos eleitores durante o procedimento para a votação propriamente dito, diferenças de candidatos apresentados e a distribuição dessas candidaturas (no caso do COMUC, por regionais)

A Câmara é o órgão que avalia e direciona os recursos financeiros da Política Municipal de Fomento à Cultura aos projetos da cidade.

O COMUC é a instância consultiva e deliberativa vinculada à Secretaria Municipal de Cultura.

Sou candidato a membro da Câmara de Fomento à Cultura Municipal de Belo Horizonte, no setor de Música. 

Deixo a seguir o endereço onde é possível se informar mais detidamente sobre o processo eleitoral da Câmara de Fomento - iniciado no dia 05 de fevereiro e que irá transcorrer até o dia 21 do mesmo mês: http://www.bhfazcultura.pbh.gov.br/cfm2017

Na sequência, apresento o vídeo por mim realizado, vídeo sugerido durante o processo de formalização da inscrição para que o candidato se apresente aos eleitores e ao público em geral:

Por fim, abaixo, a apresentação do meu perfil de candidato como aparece na página do Mapa Cultural BH, da prefeitura de Belo Horizonte, junto aos demais candidatos .

CANDIDATO: MAGNO CIRQUEIRA CÓRDOVA



NOME COMPLETO: Magno Cirqueira Córdova

PERFIL DO CANDIDATO NA PLATAFORMA MAPA CULTURAL BH: http://mapaculturalbh.pbh.gov.br/agente/1917/

CURRÍCULO RESUMIDO: Possui graduação em Licenciatura em História pela UFMG (1999) e mestrado em História pela UnB (2006). Tem experiência em pesquisa e educação na área de História, com ênfase em História do Brasil República, atuando principalmente com música popular brasileira, cultura brasileira, história da Educação no Brasil, ensino e aprendizagem em História. Foi coordenador dos cursos de pós-graduação Lato Sensu contratado pela Fundação Brasileira de Teatro junto à Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, onde também ministrou disciplina no curso de pós-graduação: Especialização em Educação Musical e, também nos cursos de graduação, as disciplinas Música Popular e História Cultural, Cultura Brasileira e Estética. Foi professor de História da Arte no Departamento de História da Universidade Estadual de Goiás, Campus Formosa; de Folclore Brasileiro I e Folclore Brasileiro II na Escola de Belas Artes, da UFRJ; de Perspectivas Históricas das Práticas Pedagógicas, no Departamento de Pedagogia da UERJ; e atuou como Tutor no curso de Extensão Educação Africanidades Brasil, na UnB. Parte dos resultados de sua pesquisa realizada em Brasília foi organizada e publicada no Dicionário da Música Brasileira do ICCA - Instituto Cultural Cravo Albin. Seu texto resultante da dissertação de mestrado foi recomendado ao Prêmio FUNARTE de Produção Crítica em Música, em 2012. Produziu inúmeros verbetes para o projeto SongBook da Música Brasileira, idealizado e organizado pelo músico Toninho Horta. Atualmente, produz e apresenta o programa semanal Aldeia do Mundo pela Rádio Inconfidência FM de Belo Horizonte, com retransmissões pela RTF - Rádio Terra da Fraternidade, da cidade do Porto, em Portugal.


Peço o apoio e a divulgação de todos.



segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

CELEBRE A ALEGRIA TOCANDO TAMBOR, LEVANDO A BANDEIRA DA REVOLUÇÃO

(por Magno Córdova)

(Capa do disco Baile das pulgas, de Marina Machado, lançado em 1999)

Em Minas, talvez mais do que em outros grotões, bagaceira é palavra que nos leva pro engenho, pro bagaço de cana, pra cachaça.
A relação é imediata e se desdobra: trabalho no engenho é mão escrava, mão escrava é tambor, tambor é candombe, coisa de ancestralidade conga por aqui instalada.
O século XX cristão dava seus suspiros finais quando surgiu entre montanhas um trabalho prenunciando em consolidação – reconsolidando, retraduzindo à sua maneira - o que havia de permanecer como código de herança musical inscrito em seu calcanhar, o do sopé da montanha, sua estrutura.
Ecoara, quase que simultaneamente, o cântico do grão-mestre contemporâneo de geração matriz motriz precedente, o artista de Mil Tons e seus tambores locais nunca dantes tão explicitados.
Entretanto, foi no surpreendente e vibrante registro de “Bagaceira” (e aqui me refiro ao registro de estúdio), do primeiro solo da jovem Marina Machado - aquele do Baile das pulgas - que esse “engenho novo” que é o industrial da cultura processou e se rendeu ao sumo de Tambolelês e Tizumbas dialogando com aquela que havia sido a sua geração mais esbranquiçada da década antecedente, associada ao rock. No entanto, deixando ilesas as estruturas de candombes, catupês e congos na voz de Dona Maria das Mercês, a mesma que no texto de Casa Aberta toca tambor.
“Bagaceira” é de Flávio Henrique em parceria com Chico Amaral, mestiçados e mestiçando em reciprocidade o que as gritantes diferenças sociais nesse nosso solo de nação impedem, transformam em nó. Se soa singelo, romântico e ingênuo, em “Bagaceira” a linha com o nó é reta e lisa. O nó não há. Desata e desacata a autoridade e o autoritarismo que transforma a diferença em penar, em destino apartado. Diria que nela a harmonia se dá em conflito, por isso aturde almas.
Não por acaso essa música entrou no programa piloto do Aldeia Do MUNDO. Ali, numa perspectiva comparativa mais ampla, “Bagaceira” se irmanou com “Candeeiro encantado”, de Lenine e P. C. Pinheiro, representantes de trabalhos tomados como dos mais representativos – a partir de seus estados de origem – dos caminhos da canção brasileira naquele momento
No caso de “Bagaceira”, a alegria toca tambor. E a bandeira é revolucionária.
Canta pra nós, Dona Mercês!
Canta, Marina!
Diga lá, Flávio!

(o áudio com o referido registro de "Bagaceira" pode ser conferido no arquivo do Programa Piloto Aldeia Do MUNDO, produzido pela Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte, e retransmitido pela RTF - a rádio lusófona, da cidade do Porto, em Portugal. Ela se encontra no primeiro bloco da edição, entre os tempo de 7:27 min e 11:40 min. É só clicar aqui: http://tfmedia.pt/podcast/aldeia-do-mundo-171017/ )
Companheiro de terra e ar
Companheiro de guerrear
Companheiro acorda
Tô falando desse berimbau
Quebre a sua televisão
Deixe o automóvel na garagem
Arranje um amor um só de cada vez
Leia algum grego todo dia
Vê se mora na Filosofia
Que o homem precisa é de Filosofia
Depois vem a arte e algum prazer
Que tenha cor pura do entardecer
Celebre a alegria
Tocando tambor
Em nome dos Deuses
O nome que for
Tá tudo ferrado
E eu tô com você
Levando a bandeira da Revolução
Na ribeira, na vila, naquela ladeira
Nas águas do mangue, nos pés da mangueira
Tá tudo o de sempre e eu quero saber
Quem já desistiu, quem vai comparecer
Surfaremos na superfície
Antenas ligadas pro que já se disse
Do osso ao foguete a marcar da bondade
Se oculta nas sendas da humanidade

(imagem extraída a partir de vídeo do Youtube com a apresentação da
"
Festa do Candombe no Quilombo do Açude [Serra do Cipó - MG] - [14/09/2013]")