quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Escuta 1ª para 2016

(por Magno Córdova)

Inicialmente, pensei em selecionar dez músicas (canções ou instrumentais) pra audição. No entanto, não encontrei justificativa para a definição da quantidade, do limite satisfatório. A solução para o problema da não aleatoriedade eu a encontrei alterando e aumentando a lista para 12 canções, inspirado no número de meses do ano.

1



Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá
Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá
Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Se der ponto pro Salvador
Eu vou pra Igreja rezar
Acendo uma vela pra Deus
E peço pra me perdoar

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá
Se der ponto pro Orixá
Eu vou pro Terreiro de saia
Licença ao dono casa
Pro meu Santo baixar

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá

Dez pai-nosso vinte ave-maria
Essa fé não vai me faltar
Um ponto para Ogum
E três toques para Iemanjá

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá
Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Se der ponto pro Orixá
Eu vou pra Igreja rezar
Acendo uma vela pra Deus
E peço pra me perdoar

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá

Se der ponto pro Salvador
Eu vou pro Terreiro de saia
Licença ao dono da casa
Pro meu Santo baixar

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá

Dez pai-nosso vinte ave-maria
Essa fé não vai me faltar
Um ponto para Ogum
E três toques pra Iemanjá

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá

Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá

Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá

Se dá ponto pro Salvador
Se dá ponto pro Orixá

Ai o meu novelo de lã
Já não sabe que ponto dá

Sobre as motivações, a única certeza é que a escolha do repertório é pessoal, sem pretender ser exclusivamente subjetiva, já que a escuta de música que cotidianamente pratico se situa para além de uma audição simplesmente casual ou dentro de parâmetros que são determinados apenas por mim.

2


Todo dia 
Todo santo dia
Acordo cedo
o sol na minha cara

Tô na beira terça-feira
Rezo o terço
E sonho para não dormir
Eu já bati na tua porta, neném
Já pedi foi tanta coisa a ninguém

Cresço pra bem servir-te, ó pátria amada
Tenho a nobreza do congar
Eu não queria me calar, ô mãe
Minha mãe

Entretanto, independentemente da maneira como uma música chegue aos meus ouvidos, sua inclusão na presente lista denuncia, indubitavelmente, estímulo e interesse surgidos através da experiência de sua audição - e, supostamente, da experiência de pessoas ou grupos com os quais partilho essas práticas de escuta.

3

(arraste o marcador de tempo do vídeo acima até 45:34 para acompanhar a música Sóis [marcha], cuja letra encontra-se abaixo)

No infinito
Do vão do espaço
Se espaça o tempo,
Não há cansaço !

No infindo imenso
De um tempo aço
Se espessa o vão
Que liberta o traço,
Forte num abraço !

Há muito mais
Do que esperamos ser,
Tem mais além
De onde podemos ver ...
Mais muito há
Do que pensamos ter,
Além do mais
Do que queremos crer !

Há bem mais sóis
Crestando entre as estrelas !

Vamos andando
Por aí ...

Brilhar
É o espaço siderar !

Há bem mais sóis ...

Há bem mais sóis,
Crestando entre as estrelas :
Confusos, tentamos vê-las !
Confusos, tentamos tê-las !
Confusos, tentamos ser
As estrelas !!!

O mais importante aqui é que a seleção de repertório é resultado da utilização livre de critérios variados.

4



Teleco-teco teco-teco teco-teco 
Ele chegou de madrugada batendo tamborim 
Teleco-teco teco teleco-teco 
Cantando “Praça Onze”, 
dizendo “foi pra mim” 
Teleco-teco teco-teco teco-teco 
Eu estava zangada e muito chorei 
Passei a noite inteira acordada 
E a minha bronquite assim comecei 

“Você não se dá o respeito 
Assim desse jeito, isso acaba mal 
Voce é um homem casado 
Não tem o direito de fazer carnaval” 
Ele abaixou a cabeça, deu uma desculpa e eu protestei 
Ele arranjou um jeitinho, me fez um carinho e eu perdoei

Como norteamento, digo que alguns artistas ou músicas aqui listados surgem como incógnitas. Incógnitas que não estão necessariamente associadas ao dado de ineditismo ou novidade, ao fato de serem supostamente tênues os elementos que os legitimariam como representativos, significativos, relevantes ou importantes, em relação a outros não listados.

5



Minha folia
É a rainha
Que faz coroação

E seu cortejo
Traduz desejo
Alegra o coração
que vai

Devagarinho
Deixando o ninho
Buscando a imensidão

Passeio breve
Seu passo é leve
Compasso de canção
Vem

Pedir passagem
Seguir viagem
Até um clarear

De cor tão bela
Qual aquarela
Eu quero ofertar
Pra ti

Todos os brilhos
Todos os filhos
Nascidos do cantar

Eu trago a prenda
E a oferenda
Te tiro pra dançar

Dança de rei
Coisa de Deus
Deixa eu ser seu par

Rosa de luz
Rindo pro céu
Quero cortejar
E louvar

Agradecido
Brindo ao destino
Com versos que colhi

Pelo caminho
Desde menino
Poetas que ouvi
Me dão

Tecido nobre
De ouro e cobre
Com rendas que escolhi

Eu faço o manto
Junto ao meu canto
E ofereço a ti

Dança de rei
Coisa de Deus
Deixa eu ser seu par


Rosa de luz
Rindo pro céu
Quero cortejar
E louvar


Na despedida
A estrada é linda
Pra sempre um caminhar

E sopra o vento
Do encantamento
Certeza de voltar
É bom

Que seja logo
Aos céus eu rogo
Que eu volte para ver

Tanta beleza
Luz da nobreza
Pra sempre eu quero ter
Você e eu

Incógnita aqui pode indicar tanto a potencialidade inesgotável de uma canção, sugerindo sua perenidade através de surpreendentes recorrências no tempo, quanto o impacto inexplicável de uma música desconhecida que se acabara de ouvir.

6


Quando vi Dó
De cachoeira
Debaixo do balaio
Lá na gameleira
Mercando pimenta
De cheirar e de arder
Dei um psiu pra ela
Ela me respondeu:
- Inhô!
Convidei pra samba-chula
Lá na pitangueira
Com Zeca Afonso
E Zeca de Lelinha
Lá o trem come
Por cima da linha
Ela sorriu
Me passou um rabo-de-olho
E depois saiu
NO corpo dela tinha um molho
Ai, meu Deus, que molho!
Chamei ela pra morar
Na minha casa amarela
Lá da janela
Dá pra ver o mar
Tem uma rede na varanda
Que é pra gente namorar
Namorar, namorar
Namorar, namorar
Namorar, namorar
Na rede balançar

Ser ou não recente no tempo não condiciona qualquer das músicas aqui listadas como mais contemporâneas do que outras - nascidas em momento diverso -, mais próximas que estariam ou estão do tempo presente em que aqui escrevo. Isso não ocorre.

7


Eu que não tenho um violão
Faço samba na mão
Juro por Deus que não minto
Quero na minha mensagem prestar homenagem
E dizer tudo que sinto
Salve o Paulinho da Viola
Salve a turma de sua escola
Salve o samba em tempo de inspiração

O samba bem merecia
Ter ministério algum dia
Então seria ministro Paulo César Batista Faria 

Uma canção como "Telecoteco", por exemplo, na versão de Isaurinha Garcia aqui listada, aparece justamente por reorganizar, reafirmar e reaproximar elementos postos por um fazer musical que parece sublimar determinações temporais e, ao mesmo tempo, é sugestivo de uma atualidade - onde quer que essa atualidade se situe: esteja no plano objetivo identificado fisicamente pelo ouvido e/ou pelo reconhecimento técnico de um profissional; esteja ela situada em lugares mais profundos da memória - coletiva ou individual - onde toquem instâncias emocionais fugidias ao controle da razão, de qualquer um de nós ou de todos.
8



Recolhe ainda verde pelos matagais
Mergulha e rala a pele pelos areais
Candeia segue ausente na cadência ao mar
enquanto a rachadura não se faz fechar

No trilho o andarilho tenta descobrir
Se o leito da partida não vale o perdão
Se os pés já não caminham sem ouvir a voz
que narra todo o enredo dessa solidão

Sentido vê que há mesmo sem direção
que o norte tantas vezes se multiplicou
Na contramão indica que o destino vai
levar pelo caminho que ele desviou

Enquanto o cais vagueia por aí
Já que a ressaca nem notícia deu
Revelam fatos sem sequência
do que era muito e é só seu

Isso não significa negar a historicidade das canções e seus autores mas, antes, superar o reconhecimento de uma história nos moldes convencionais, equivocadamente tradicionais, situando-a exclusivamente no passado. A meu ver, uma visão limitadora de história que carrega consigo a neutralização do presente como tempo histórico consequentemente anula os sujeitos inseridos nesse presente.

9


Moçada, nosso caso no Brasil é samba
É um pandeiro, uma mulata e um crioulo com passo de bamba
Um violão, uma cuíca, uma mulata cheia de miçanga
Nada de rock rock, de rock rock
Nós queremos é samba

Um samba ritmado bem tocado cheio de remelexo
Uma mulata bem cestosa requebrando faz cair o queixo
Sabe lá o que é isso?
Onde tem um bamba,
Nada de rock rock, de rock rock
Nós queremos é samba

Daí que a música feita (e ouvida) neste instante, dentro da perspectiva que aqui se quer contemplar, já possui sua história. 
10


O meu amor sai de trem por aí
e vai vagando devagar para ver quem chegou
O meu amor corre devagar, anda no seu tempo
que passa de vez em vento
Como uma história que inventa o seu fim
quero inventar um você para mim
Vai ser melhor quando te conhecer

Olho no olho
e flor no jardim
Flor, amor
Vento devagar
vem, vai, vem mais

Não seria isso a atemporalidade que a manifestação musical e tudo que ela implica - marcada por noções de tempo - sugere e supõe?
11


Dou de chorar
Chorar de rir
Rir de fazer
Água rolar
Só por prazer
Água musa da filosofia
Toda gota principia
Um sabor novo de sal
Noite do iguana excita o rio
Água unidade do cio
Tudo é um água total
Horizonte azul que a vista alcança
Vou na onda que balança
Nada é um nadar igual
Mãe de Quelé
Mãe de Pixinguinha
Rum Rumpi Lê
Dou uma palmadinha
No bum-bum é
No bum-bum de uma
Que abre, que abre o bué
Mãe de uma menina
Mãe de uma Nazaré
Viva o movimento
Mãe da maré
Benza o sofrimento
Fonte da sé
Água na banheira
Ajuda, ajuda-me até
Traga-me um desejo novo
E vê se me põe de pé!


Boa escuta!
12


Lá onde o sol descansa
Lá onde o sol descansa
Amarra sua luz no vento que balança
No veio do horizonte o meio que arredonda
Um caminho de paz

Lá onde a dor não vinga
Nem mesmo a solidão extensa da restinga
Até aonde a vista alcança é alegria 
Um mundo de paz

Lá onde os pés fincaram alma
Lá onde os deuses quiseram morar
Lá o desejo lá nossa casa lá
Lá onde não se perde

A calma e o silêncio nada se parece
Nem ouro , nem cobiça, nem religião 
Um templo de paz
Lá onde o fim termina
Descontinua o tempo o tempo que ainda
Herança que deixamos do nosso lugar
Um canto de paz


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