por Magno Córdova
A iniciativa de postar este texto surgiu de um conjunto de conexões de ideias ocorridas em um segundo, no dia de hoje. Uma frase de Ariano Suassuna, que li em postagem de minha irmã Dora numa rede social, desencadeou tudo (frase que Suassuna disse se referindo a D. Sebastião e que utilizo como epígrafe póstuma ao texto já concluído e à morte de Ariano - a quem dedico esse instante). Daí se seguiu a memória de uma criatura - a quem também dedico esse texto - de nome Buguiugue (pronuncia-se Bu- gu- iu- gue, forma abrasileirada de Boogie- Woogie), "a louca da minha infância", que no Vale do Jequitinhonha foi uma das personagens ou personalidades protagonistas a povoar de fantasia matuta, magia sertaneja e, portanto, "armorialidade" o meu mundo dos primeiros tempos. Quase que simultaneamente, uma terceira pessoa aflorou em minha memória, mais uma a quem dedico o que está escrito aqui: Anita, ex-interna do Hospital Psiquiátrico Raul Soares, em Belo Horizonte, de onde escapou. Anita também é de origem jequitinhonhense e seu perfil, quando a conheci, requeria acompanhamento médico. Foi incorporada à minha família desde os meus 12 anos de idade e trouxe para a experiência prática cotidiana de quem que, como eu, conviveu com ela, o que apenas era representado pela imaginação mais geral - onde preconceituosamente "sua doença" habitava. Por fim, outra conexão que veio se juntar a esse universo foi o personagem Lulu Bergantim, do conto "Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon", de autoria de José Cândido de Carvalho. Quem conhece este conto entenderá o porque. Pra mim, o Bergantim é um dos mais brilhantes textos de ficção a tratar da realidade do tema aqui focalizado. Em apenas duas páginas o autor da conta de nos surpreender com a figura de Lulu.
"Eu tenho um fascínio enorme por louco. Não sei se é por identificação, mas eu me dou muito bem com doido" (Ariano Suassuna).
Quando apresentou seu espetáculo “O marco do Meio dia”, em 2001, Antônio Nóbrega fez homenagem a três ilustres brasileiros: Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho, Mané Garrincha e Artur Bispo do Rosário. Todos três mestiços, gênios e marginalizados. Além da condição étnica, sofreram preconceito pelas enfermidades que os acometeram: Garrincha com o alcoolismo, Aleijadinho com a Hanseníase e Artur Bispo do Rosário com o diagnóstico da loucura. Garrincha e Aleijadinho são muito conhecidos do grande público, o que não ocorre na mesma medida com Bispo do Rosário.
Vídeo apresentando informações e parte da obra do artista, com a canção "Galope beira-mar para Bispo do Rosário", de Antônio Nóbrega e Wilson Freire, como trilha musical (Vídeo extraído do Youtube. Postado por Jussara Olinev).
Bispo do Rosário já havia sido homenageado por outro músico brasileiro:
em 1994, o compositor Herbert Vianna utilizou um trabalho de Bispo do Rosário
para ilustrar a capa do disco “Severino”, do grupo Paralamas do Sucesso.
Capa do disco Severino, do Paralamas do Sucesso, com trabalho de Arthur Bispo.
Os dados biográficos de Bispo do Rosário são imprecisos. Sabe-se que foi criado por uma família rica no bairro carioca de Botafogo. Quando jovem, trabalhou como fuzileiro naval e tornou-se campeão como pugilista, até que um distúrbio mental o levou preso. Bispo dizia ter ouvido uma mensagem de Deus, de quem recebeu o pedido para que reconstruísse o universo. Ficou quase cinqüenta anos encarcerado em uma solitária, pois agredia os companheiros de cela e se intitulava o xerife local. Na solitária da colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico que se localiza nos arredores da cidade do Rio de janeiro, gerou mais de mil esculturas e modelagens. Utilizava-se do lixo recolhido na colônia, sucata, restolhos e trapos de pano, que eram desfiados e posteriormente reaproveitados em seus bordados. Seus trabalhos foram apresentados e admirados em vários países graças à iniciativa do crítico Frederico de Morais, que considera a obra do artista a mais genuína arte moderna brasileira, já que Bispo a produziu em condições de total alienação do mundo, o que a torna incontestavelmente original. Bispo morreu em 1989, de infarto.
Para conhecer mais:
Museu das Imagens do Inconsciente, no Engenho de Dentro, Rio de janeiro. http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/ ;
Museu Bispo do Rosário, em Jacarepaguá, Rio. http://www.museubispodorosario.com/ ;
A imagem de Bispo do Rosário foi extraída de http://www.50emais.com.br/artigos/obra-de-arthur-bispo-do-rosario-vale-ida-a-bienal/
Museu das Imagens do Inconsciente, no Engenho de Dentro, Rio de janeiro. http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/ ;
Museu Bispo do Rosário, em Jacarepaguá, Rio. http://www.museubispodorosario.com/ ;
A imagem de Bispo do Rosário foi extraída de http://www.50emais.com.br/artigos/obra-de-arthur-bispo-do-rosario-vale-ida-a-bienal/
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