quarta-feira, 23 de julho de 2014

Carlos Cachaça

por Magno Córdova

  
         Em 1918, a população da cidade do Rio de Janeiro viveu momentos de desespero: um surto de gripe espanhola assolou a cidade tornando vítimas milhares de pessoas. Carlos Moreira de Castro, morador do Morro da Mangueira, perdeu a mãe e a irmã com a gripe. Carlos, mais conhecido como Carlos Cachaça, já morava no morro desde 1910, quando tinha oito anos de idade. 
         Por volta de 1919, chegou ao morro da Mangueira aquele que seria o maior amigo e parceiro musical de Carlos Cachaça: Angenor de Oliveira, o Cartola. Reunidos a vários outros companheiros de badernas e bebedeiras, criaram um bloco carnavalesco para competir com os outros da comunidade: o Bloco dos Arengueiros. Participaram do Bloco, além de Carlos e Cartola, os amigos Marcelino, Arthuzinho, Chico Porrão, Fiúca, Homem Bom e outros. Apesar das badernas, eram reconhecidos em todo morro como letristas e batuqueiros insuperáveis. 
        Enquanto isso, no Estácio de Sá, compositores como Ismael Silva, Bide e Marçal começavam a gravar músicas do gênero que chamava atenção à época e ganhava espaço entre os cantores de rádio: o samba. Prevendo a possibilidade de serem conhecidos fora dos limites do morro, Carlos Cachaça e seus amigos resolvem mudar de comportamento e fundaram, em 28 de abril de 1928, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, na Travessa Saião Lobato nº 21, no Buraco Quente, região localizada no morro. Da parceria Carlos Cachaça e Cartola surgiriam sambas que ficaram guardados na memória coletiva: “Não quero mais”, do início dos anos 30, “Quem me vê sorrindo” e “Alvorada”, dos anos 40, dentre outros. 
          A história do samba “Alvorada” é curiosa: a primeira parte da obra, com letra e música de Carlos, já era cantada na quadra da Mangueira desde a década de 40, com a segunda parte improvisada, o que eles chamam de “samba versado”. Somente 20 anos depois, Cartola compôs a música da segunda parte e Hermínio Belo de Carvalho compôs a letra. 

Aqui, interpretação de Cartola para o samba feito em parceria entre ele e Carlos Cachaça

Uma indicação para leitura é o livro “Alvorada – Um tributo a Carlos Moreira de Castro (Carlos Cachaça)”, de Marília Trindade Barbosa. Publicado pela Divisão de Música Popular, do Instituto Nacional de Música da FUNARTE. 

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