sábado, 12 de julho de 2014

Geraldo Pereira

          Por Magno Córdova


         Na década de 1940, reunia-se na praça Tiradentes, da cidade do Rio de Janeiro, um grupo de sambistas a procura de trabalho e de bebida. O nome do bar frequentado pelos sambistas era Café Carlos Gomes e tinha por proprietário um português conhecido como Alma Grande. Encontravam-se ali Arlindo Violonista, Kid Pepe, Maestro Dedé, Dino das Sete Cordas, Bide, Nelson Cavaquinho. Dentre esses compositores e músicos de samba, um se destacava por estar sempre sem dinheiro e ter vindo de Minas: Geraldo Pereira.

Geraldo Teodoro Pereira nasceu em Juiz de Fora, no ano de 1918. Somente em 1930 é que se transferiu para a cidade do Rio para morar com um irmão mais velho no morro do Santo Antônio. Para o maestro Guerra Peixe, a música de Geraldo Pereira é um dos mais importantes marcos da História do samba no Brasil, pela evidência e freqüência com que trabalha ritmos sincopados em suas composições.

Vários episódios da vida de Geraldo Pereira são controversos. Em especial, o que retrata sua morte, acontecida em 1955, na Lapa. A versão mais divulgada é a de que Geraldo havia se metido com uma prostituta protegida de Madame Satã. Madame Satã era um homossexual que defendia as prostituas da zona boêmia do Rio de Janeiro. Numa discussão com Satã, Geraldo Pereira teria levado um soco e caído, batendo com a cabeça no chão. Corria fama no local, entre a "malandragem", um tal soco com a canhota como golpe fatal desferido comumente por Madame Satã nas frequentes brigas em que se envolvia. No início da década de 1970, Satã deu um depoimento em entrevista ao jornal “O Pasquim” negando que havia batido em Geraldo.

Um outro episódio curioso se refere à música “Ministério da economia”, composta por Geraldo em 1951 e que durante o período militar do Ato Institucional número 5 (AI-5), foi vetada pelos censores da ditadura, dezessete anos depois de ter sido escrita.

Aqui, o próprio Geraldo Pereira interpreta a sua composição "Ministério da economia", feita em parceria com Arnaldo Passos, em 1951, e proibida pelos censores do governo militar brasileiro instaurado em 1964 (vídeo extraído do Youtube). 


Ministério da Economia

Seu Presidente, 
Sua Excelência mostrou que é de fato 
Agora tudo vai ficar barato
Agora o pobre já pode comer
Seu Presidente,
Pois era isso que o povo queria
O Ministério da Economia
Parece que vai resolver
Seu Presidente
Graças a Deus não vou comer mais gato
Carne de vaca no açougue é mato
Com meu amor eu já posso viver
Eu vou buscar
A minha nega pra morar comigo
Porque já vi que não há mais perigo
Ela de fome já não vai morrer
A vida estava tão difícil
Que eu mandei a minha nega bacana
Meter os peitos na cozinha da madame
Em Copacabana
Agora vou buscar a nega
Porque gosto dela pra cachorro
Os gatos é que vão dar gargalhada
De alegria lá no morro

 Dos artistas que ganharam projeção durante o período militar e gravaram canções de Geraldo Pereira ao longo da carreira,  podemos destacar Chico Buarque ("Sem compromisso"), Gal Costa ("Falsa Baiana"), Jards Macalé ("Ministério da Economia", "Bolinha de papel" e "Acertei no Milhar"), e, mais recentemente, Zizi Possi ("Escurinho") e Luiz Melodia ("Cabritada mal sucedida").        
Uma indicação para leitura é o livro Um certo Geraldo Pereira, de Alice Duarte Silva de Campos e outros, com a colaboração do sambista Nelson sargento. Uma publicação da FUNARTE, lançado em 1983.

Capa do Livro indicado ao final deste texto, lançado pela FUNARTE, reproduz uma das imagens mais conhecidas de Geraldo Pereira


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