a segunda edição do Programa #AldeiaDoMundo, levado ao ar na última terça-feira, dia 1º de novembro, encontra-se disponível na página da Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte.
Se você ouviu e gostaria de ouvir novamente; ou se você não teve a chance de ouvir no dia em que o programa foi ao ar e gostaria de conferi-lo, fique à vontade para acessar o arquivo através do endereço abaixo.
Nas eleições das “Diretas Já” para presidente da república no Brasil, em 1984, o Jornal da Tarde apresentou o que se considera a sua maior inovação em termos gráficos: na sua primeira página, anunciou a derrota do projeto das diretas oferecendo aos leitores apenas um retângulo preto, sem qualquer dizer, simbolizando o luto pela derrota.
Em
1973, o editor do Jornal do Brasil, Alberto Dines, impedido de noticiar a morte
de Salvador Allende, presidente socialista chileno deposto por uma junta
militar chefiada por Augusto Pinochet, apresentou a primeira página do jornal
sem manchetes e sem fotos. Com isso, ao mesmo tempo driblou a censura e
denunciou sua ação.
Entrevistado
sobre sua participação no momento do golpe dado pelos militares em 1964, o
general Olympio Mourão Filho declarou ter lido na manchete do jornal O Globo de 31 de março daquele ano que haveria se instalado um soviete na Marinha de
Guerra. Preocupado com a presença comunista no comando da corporação, decidiu
marchar com suas tropas e antecipar o golpe.
A
forma como a imprensa nos conta a História do país deve ser vista com cautela.
Qualquer que seja a tentativa de um órgão de comunicação no sentido de tornar
imparcial o acontecimento abordado, a informação dada trará em seu bojo as
preferências ideológicas de quem a fornece. Nesse sentido, a matéria
jornalística representa um documento muito útil para a identificação das
correntes de pensamento dominantes entre os órgãos formadores de opinião em um
determinado momento histórico.
Há um pequeno livro, paradidático, que pode servir como uma boa iniciação sobre o papel dos órgãos
de imprensa no país. Seu título é “Imprensa e História do Brasil”, de Maria
Helena Rolim Capelato. Foi publicado pela primeira vez em 1988, pela Editora Contexto. Encontra-se disponível em pdf no endereço: https://pt.scribd.com/doc/317069631/CAPELATO-Maria-Helena-Rolim-Imprensa-e-Historia-do-Brasil-Editora-Contexto-Sao-Paulo-1988-1-pdf
Abaixo, uma canção que joga luz sobre uma outra dimensão, inusitada (?) acerca dos usos dados ao jornal (vídeo com o áudio da música logo após o texto com a letra). No caso, o jornal utilizado por um migrante na São Paulo de meados do século XX. "Meu enxoval" é um coco de autoria de Gordurinha e José Gomes. Foi gravada por Jackson do Pandeiro em 1958.
Eu fui para São Paulo procurar trabalho
E não me dei com o frio
Tive que voltar outra vez para o Rio
Pois aqui no Distrito Federá
O calor é de lascar
E veja o meu azar:
Comprei o "Jornal do Brasil"
Emprego tinha mais de mil
E eu não arranjei um só...
Telegrafei para a vovó
Ela tem uma bodega em Recife, Pernambuco
Eu disse pra ela que estou quase maluco
E que não tenho nem onde morar, o quê que há?
Estou dormindo ao relento, valei-me nossa Senhora!
O meu travesseiro é um "Diário da Noite"
E o resto do corpo fica na "Última Hora".
Mas se eu voltar, aquela turma lá do Norte me arrasa
"A MPB foi a escola da minha geração" (Simone Guimarães)
Pensou-se em utilizar o seguinte subtítulo ao texto, sugerindo um traço de perfil do segundo elemento do parâmetro comparativo:
"Da hipocrisia fardada aos descarados de toga",
típico de cacoetes acadêmicos, mas sem abrir mão de certa dose de sarcasmo.
O contexto de origem é o período militar recente no Brasil.
Cabe ao leitor situar o momento presente a partir do que as canções e o rápido
comentário evocam, confrontados com o que esteja diante dos olhos da
atualidade, de PECs e políticas descaradamente insanas.
Vamos a ele.
Em determinado momento de meu texto de dissertação, avalio
duas canções.
A primeira, de Ednardo, intitula-se "Receita da felicidade", cuja letra é a seguinte (logo abaixo o vídeo com a canção):
Ultimamente ando às vezes preocupado
Vendo a cara tão risonha das crianças
Nas fotos, nos anúncios
Nos cartazes das paredes
Dando ideia que algo vai acontecer
É receita certa pra sensibilizar
Pra esconder
Pra mentir ou pra vender
Vejo as caras tão risonhas
Tão lindinhas, tão risonhas
Nos jornais
Nas paredes, nas TVs
Eu não gosto desses dedos que me apontam
Eu não gosto dessas frases que me dizem
“O futuro deles está nas suas mãos”
Pois é, seu Zé, sei não
Não me esqueço que algum dia fui risonho
Com a carinha bonitinha pra valer
Quem guardou o meu futuro
Quem guardou o meu futuro
Quem guardou o meu futuro
Me dê.
(vídeo extraído do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=SgR45Wa622k)
Na sequência, após rápida contextualização acerca da TV e
dos meios de comunicação no Brasil dos anos 70, comento:
"Em sua canção, o compositor evoca uma imagem importada
que ficara marcada como símbolo da convocação para a guerra: os dedos apontados
como que a cobrar uma responsabilidade dos indivíduos na execução de campanhas
perpetradas pelo Estado encontram na figura de Tio Sam o similar externo
perfeito dos projetos dos militares como, por exemplo, o do MOBRAL – Movimento
Brasileiro de Alfabetização.
E aqui ele remete ao slogan utilizado nesta campanha, só que
reconstruído: em “o futuro deles está nas suas mãos” lê-se “você também é
responsável”, verso da canção que embalou a campanha de implementação daquele
projeto educacional e que, curiosamente, foi interpretada por dois conterrâneos
seus: Dom e Ravel nasceram no estado do Ceará".
Para finalizar, então, segue a letra de "Você também é
responsável" (o vídeo contendo o registro sonoro encontra-se logo em
seguida):
Eu venho de campos, subúrbios e vilas,
Sonhando e cantando, chorando nas filas
Seguindo a corrente sem participar
Me falta a semente do ler e contar
Eu sou brasileiro anseio um lugar
Suplico que parem pra ouvir meu cantar:
Você também é responsável, então me ensine a escrever
Eu tenho a minha mão domável, eu sinto a sede do saber
Do saber, do saber
Eu venho de campos, tão ricos, tão lindos
Cantando e chamando. São todos bem-vindos
A nação merece maior direção. Marchemos pra luta
De lápis na mão;
Eu sou brasileiro, anseio um lugar, suplico que parem pra
ouvir meu cantar:
Você também é responsável
Então me ensine a escrever
Eu tenho a minha mao domável, eu sinto a sede do saber
Do saber, do saber
Do saber, do saber
(vídeo extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=G6kwbZIHZmA)
A zona
urbana de Belo Horizonte é composta de um traçado ortogonal de ruas e avenidas
separadas da zona suburbana pela antiga avenida 17 de Dezembro, atual Contorno.
O modelo inicialmente concebido pelos construtores da cidade incluía uma
terceira área que seria a zona rural, onde se localizavam as colônias
agrícolas, e que se constituiria em um “cinturão verde”. A ocupação dessas
áreas não se deu de acordo com o previsto pelos idealizadores do modelo
habitacional. A zona urbana teve boa parte de seus terrenos postos em leilão
para que a seleção de proprietários se desse por um critério de renda.
O que se
verificou foi que, já no ano de 1902, viviam cerca de duas mil pessoas em favelas
no interior da área da Contorno, principalmente nas regiões do entorno da
avenida Amazonas, antiga Barroca, atual Barro Preto, local então destinado para
o Jardim Zoológico municipal. Em algumas dessas áreas apareceram Vilas
Operárias, locais habitados por aqueles que comprovavam bom comportamento e
educação sanitária.
A previsão de que a ocupação se daria do centro para as
regiões periféricas foi subvertida, conforme atestam os dados do censo
realizado em 1912: dos 39 mil habitantes moradores da cidade naquele ano, quase
70% residiam nas áreas suburbanas e na zona rural. Ou seja, cerca de 27 mil
pessoas já haviam se estabelecido fora do espaço da avenida do Contorno. A área
interna a essa avenida foi projetada para receber uma população de 30 mil
pessoas e contava com apenas 12 mil habitantes naquela época. Nas décadas de
1930 e 1940, a cidade conheceu um período de extraordinário desenvolvimento
urbano, em especial fora da Avenida do Contorno, que iria se refletir nas
décadas posteriores.
Em trinta anos, a população da cidade saltou dos 211 mil
habitantes de 1940, para 1 milhão 255 mil habitantes em 1970. Mais da metade
dessa população não era nascida na cidade, sendo grande parte dela originária
das áreas rurais de todo o estado de Minas.
Abaixo,
uma bela canção que faz menção a Santa Tereza, bairro de Belo Horizonte que ganhou status de importante território musical da cidade, particularmente a partir dos anos 70. Foi nesse bairro que se consolidaram as parcerias e encontros musicais do Clube da Esquina. O contexto era, portanto, o da Esquina, nome que alude explicitamente à importância desse elemento urbano no cotidiano da cidade, caracterizando-a.
Os compositores da canção são Tavinho Moura e Murilo Antunes. E o registro aqui tomado é o que se consolidou na própria cidade, impregnando seu imaginário. O intérprete é Beto Guedes e ela faz parte de seu álbum intitulado Contos da lua vaga, lançado em 1981.
A pedalar Camisa aberta no peito Passeio macio Levo na bicicleta O meu tesouro da juventude Passo roubando fruta de feira Passo a puxar meu estilingue Vai pedra certeira no poste Passa um veterano E já cansado Herói de guerra Grito: Lá vem a bomba! E meu tesouro me leva Pelas ruas de Santa Teresa A pedalar Encontro amigo do peito Sentado na esquina Pula, pega garupa Segura o bonde ladeira acima Ganha o meu tesouro da juventude Ainda que a cidade anoiteça Ou desapareça Piso no pedal do sonho E a vida ganha mais alegria Ganha o meu tesouro da juventude Que foi em Pedra Azul E em toda parte Onde tive o que sou
Uma
indicação para leitura é o texto “Habitação e produção do espaço em Belo
Horizonte”, de Heloísa Soares de Moura. Presente no livro Belo Horizonte:
espaços e tempos em construção,organizado por Roberto Luis de Melo Monte-Mór.
Publicação do CEDEPLAR – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional e
Prefeitura de Belo Horizonte.
Outro texto sugerido, relativo à produção musical do Clube da Esquina e sua relação com o espaço da cidade, foi publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro e pode ser acessado através do endereço http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/RAPM07A122008_Acancaoamiganasruasdacidade.pdf . Seu autor é o histoiador Bruno Viveiro Martins.
Abro aqui uma exceção quanto ao conteúdo proposto por esse blog que originalmente publica textos cujo objeto norteador é a música.
O material a seguir é parte das informações por mim organizadas na condição de consultor em projeto intitulado Promoção da diversidade e do diálogo intercultural entre o Brasil e o exterior por meio do turismo cultural, realizado em 2010, para o Ministério do Turismo, através da Embratur.
A iniciativa de torná-lo público foi motivada tendo em vista a situação político-administrativa atual (agosto de 2016) do Parque e da Fundham, criada para preservá-lo.
As informações nele contidas, portanto, devem ser consideradas no contexto do ano em que o projeto foi realizado.
(por Magno Córdova)
Parque Nacional da Serra da Capivara - Patrimônio
Mundial (UNESCO, 1991)
(Imagem extraída do endereço http://www.fumdham.org.br/ . Acesso em 24/08/2016)
Definição
Área de proteção
ambiental permanente que possui importante patrimônio em sítios arqueológicos.
Inspirou a criação no local do Museu do Homem Americano. Suas grutas e tocas
apresentam diferentes estilos de pintura e gravura rupestre e há circuitos de
visitação a outras formações geológicas do semiárido, clima típico do Nordeste
brasileiro.
Localização
Está localizado
no sudeste do estado do Piauí e o principal município a que pertence é São
Raimundo Nonato. Os outros são Brejo do Piauí, Coronel José Dias e João Costa.
O ponto de referência para acesso ao parque é a cidade pernambucana de
Petrolina, a 350 km, onde há aeroporto que opera com voos regulares. Dessa cidade
e também de Teresina, que fica a 510km, saem ônibus para São Raimundo Nonato.
Agências de viagens especializadas em ecoturismo costumam oferecer pacotes
completos para visitas à Serra da Capivara.
Melhor época para ir
De dezembro a
junho, quando as temperaturas locais são mais baixas. Fica aberto diariamente
das 7h às 17h, durante todo o ano.
É obrigatório
obter autorização do Ibama-PI e contratar um guia cadastrado pelo Ministério do
Meio Ambiente. O percurso aberto à visitação possui 22 sítios arqueológicos com
escadas de acesso, passarelas e sinalização.
Características
gerais
O Parque
Nacional Serra da Capivara reúne a maior coleção de desenhos rupestres do
mundo, com cerca de 30 mil pinturas catalogadas. Está situado na região
semi-árida do Nordeste do Brasil, na fronteira entre o sertão nordestino e a
floresta amazônica. Apresenta dois períodos climáticos ao longo do ano: um de
seca e um chuvoso. O relevo atual se formou há cerca de 240 milhões de anos. Um
levantamento da placa do estuário marítimo que ocupava a região onde hoje está
situado o parque forma uma cuesta. A cuesta representa uma fronteira entre a
planície pré-cambriana do rio São Francisco e a formação sedimentar do período
permiano-devoniano da serra. A diferenciação das rochas que formam a serra e a
ação do tempo modelaram o relevo com formas e cores variadas.
Mais de 700
sítios arqueológicos foram mapeados no Parque Nacional e na área de proteção
permanente. A maioria é formada de abrigos sob rocha. As pinturas dominantes
são de caráter narrativo, retratando cenas da vida cotidiana e cerimonial. Seu
conjunto forma um sistema gráfico de comunicação entre aqueles povos. É
possível ao visitante observar a permanência temática dessa arte, tradição
cultural que perdurou aproximadamente 12 mil anos. Ao mesmo tempo, faz-se notar
uma evolução estilística na composição das cenas, através das variações na
técnica de desenho e pintura. Há diversos vestígios deixados pelo homem
pré-histórico nos sítios arqueológicos espalhados pelos 130 mil ha de área do parque,
com galerias de vários andares, cobertas por pinturas e gravuras rupestres.
O parque foi
declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO, em 1991. Está
estruturado para receber a visita de diversos públicos. Há trilhas e sítios com
graus diferenciados de dificuldade de percurso, conforme a disponibilidade de
tempo e o condicionamento físico do visitante. Possui trilhas por desfiladeiros
e sobre as cadeias de montanhas da serra local. Há 14 trilhas turísticas que
permitem a visita, com segurança, a mais de 100 sítios de pinturas rupestres.
Uma delas fica a menos de 200m do receptivo do parque e traz mais de 3 mil
registros desses desenhos, podendo ser visitada por turistas da melhor idade.
Um projeto
social vinculado ao parque é desenvolvido pela Fumdham (Fundação Museu do Homem
Americano). As pinturas rupestres inspiram a produção cerâmica da fábrica
mantida pela fundação. O projeto é autossustentável e visa capacitar a mão de
obra surgida com a proibição da caça de animais selvagens na região. A produção
da fábrica atende a mercados internos como São Paulo e externos como a Itália. A
Fumdham é cogestora do Parque Nacional Serra da Capivara em parceria com o
Ministério do Meio Ambiente.
Os visitantes
têm três opções de hospedagem: Pousada Hotel Serra da Capivara (fica em São
Raimundo Nonato, de propriedade do Governo do Piauí. Cedida à Fumdham, sua
operação é terceirizada. Possui loja com produtos relativos à Serra da
Capivara), Camping do Sítio do Mocó (próximo ao Centro de Visitantes do parque.
Aluga e oferece espaço para barracas e tem restaurante que oferece alimentação
sob encomenda) e Albergue Estudantil Barreirinho (a 4km da principal entrada do
parque, com diárias que incluem refeições).
Atrativos Específicos
Circuitos:
Entre as
atrações do Parque Nacional da Serra da Capivara, destacam-se os seguintes
circuitos: Coronel José Dias, Toca do Pajaú, Circuito do Veadinho Azul e Baixão
da Vaca pelo Desfiladeiro da Capivara, Baixão da Vaca II e III, Toca da Saída,
Paredão dos Veadinhos, Toca do Neguinho Só, Baixão da Vaca I, Projeto Social –
Cerâmica, Sítio do Mocó, Fundo do Baião da Pedra Furada, Vista Panorâmica
Caldeirão do Rodrigues, Toca do Rodrigues II, Canoas III, Canoas I e II, Baixão
das Andorinhas, Toca de Cima do Pilão (caverna iluminada com energia solar),
Vista Panorâmica da Serra Talhada, Trilha do Hombú (interpretativa), Toca da
Martiliana, Toca da Pedra Furada, Toca da Invenção (pinturas brancas), Toca da
Boca do Sapo, Visita ao Camping, Toca dos Coqueiros (Zuzu), Baixão das Mulheres
II, Baixão das Mulheres I, Travessia do Alto da Pedra Furada, Gruta do Alto da
Pedra Furada, Centro de Visitantes do Parque, Toca do Boqueirão da Pedra
Furada, Pedra Furada e anfiteatro, Toca do Cajueiro, Toca do Sítio do Meio,
Toca do Boqueirão da Pedra Furada (iluminação noturna).
Baixão das Andorinhas:
Local onde se
observa grande quantidade de aves dessa espécie recolhendo-se para seu abrigo
noturno: uma gruta situada no alto de um desfiladeiro.
Centro de Visitantes:
Centro de apoio
ao público, com lanchonete, auditório para apresentação de vídeos, loja com
produtos Serra da Capivara, cerâmica, postais, livros etc.
São Raimundo Nonato:
Em São Raimundo
Nonato, a Fumdham desenvolve o projeto social da fábrica de cerâmica da Serra
da Capivara e. gerencia o Museu do Homem Americano e o Centro Cultural Sergio
Mota, onde são desenvolvidas pesquisas científicas. As descobertas feitas na
área levaram arqueólogos a acreditarem que o homem teria habitado o continente
americano há mais de 30 mil anos, contrariando as teorias mais aceitas pelos
cientistas. O museu conta a história da evolução do homem e tem em seu acervo
os achados arqueológicos do lugar: ferramentas em pedra, restos de cerâmica,
vestígios de fogueiras, de sepultamentos, esqueletos fossilizados de grandes animais
pré-históricos. Deve ser visitado no primeiro dia de estadia em São Raimundo
Nonato, como forma de orientação aos roteiros e percursos internos do parque.
OBS: Só é
permitida a entrada no Parque Nacional acompanhado de guia oficial. No hotel em
São Raimundo Nonato obtém-se orientação sobre a contratação do guia. O parque
fica a aproximadamente 40km de distância da cidade. O visitante pode se
deslocar em condução particular ou contratar transporte junto ao próprio guia.
Não existe sistema regular de transporte para o parque. Os guias são formados pela
Fumdham. Existem normas de conduta relativas ao parque, cujo objetivo é educar
o visitante e auxiliá-lo na preservação do patrimônio. A Fumdham possui
publicações bilíngue e trilíngue relativas ao parque.
A primeira vez que vi Vander Lee no palco ele ainda era Vanderli Natureza. Seu nome assim grafado já era do meu conhecimento através de cartazes anunciando uma ou outra apresentação em bares e espaços mais alternativos de BH em fins dos anos 80.
Em 1990, se não me engano, fui convidado para ser jurado no Festival da Canção de Abre Campo, cidade mineira da Zona da Mata, situada a aproximados 200 km da capital. A desenvoltura com que Vanderli subiu ao palco e o belo número por ele defendido não me deixaram dúvidas de que ali havia um forte candidato ao primeiro prêmio daquele concurso.
Vanderli não venceu o festival, ficou com o segundo ou terceiro lugares o que, de certa forma, me decepcionou, dentre os demais companheiros do juri que optaram por outros candidatos. Chamo atenção para o fato de que havia gente muito boa concorrendo, inclusive um compositor que além de muito talentoso era meu amigo pessoal. No entanto, era indiscutível a superioridade do conjunto entre texto, melodia e desempenho demonstrados por Vanderli.
Ao longo da década de 90, sempre que me deparava com o nome dele - grafado ou não como daquela primeira forma - ficava atento, na expectativa de coisa boa de se ouvir. Não me decepcionei.
A consolidação veio com "No balanço do balaio", de 1997, colocando-o em definitivo dentre o que de melhor estava acontecendo na cena musical local.
Ficou, mais ou menos desse período de passagem de séculos, um registro que creio ter sido aquele que reafirmou seu ingresso para fora dos limites do território de seu estado natal: em seu terceiro disco, "Comigo", gravado em 2001, a maranhense Rita Ribeiro registrou duas canções de Vander Lee: "Românticos" e a que se segue, "Contra o tempo", que não parou de soar em meus ouvidos nos anos subsequentes ao seu lançamento e de minha saída do território mineiro.
Era, mais uma vez, Minas redimensionada no território brasileiro - neste caso, sob a batuta de uma ginga maranhense - que eu precisava levar comigo.
Até que ele ganhasse visibilidade com sua própria voz por todo canto, o que não tardou a acontecer.
Corro contra o tempo pra te ver Eu vivo louco por querer você ÔÔ, morro de saudade a culpa é sua
Bares, ruas, estradas, desertos, luas Que atravesso em noites nuas ÔÔ, só me levam pra onde está você
O vento que sopra meu rosto cega Só o seu calor me leva ÔÔ, de uma estrela pra lembrança sua
O que sou, onde vou, tudo em vão Tempo de silêncio e solidão
O mundo gira sempre em seu sentido E tem a cor do seu vestido azul ÔÔ, todo acaso finda em seu sorriso nu
Na madrugada uma balada soul Um som assim meio rock n' roll ÔÔ, só me serve pra lembrar você Qualquer canção que eu faça tem sua cara
Rima rica, jóia rara ÔÔ, tempestade louca no Saara
O que sou, onde vou, tudo em vão Tempo de silêncio e solidão
Quem acompanha o trabalho de Lenine desde o disco Olho de Peixe (com
Marcos Suzano, lançado em 93) ouviu dizer, desde lá, de um poeta Recifense
chamado Carlos Pena Filho: “... Eu sou um verso de Carlos Pena Filho/ Num frevo
de Capiba/ Ao som da Orquestra Armorial...”, diz alguns dos versos de “Leão do
Norte”, canção feita em parceria com Paulo César Pinheiro, cujo título alude e
homenageia expoentes da cultura do estado natal do cantor/compositor.
Por sua vez, quem conhece a trajetória de Alceu Valença ouviu versos de
Pena Filho musicados por ele - também pernambucano, de São Bento do Una - desde
seu disco Coração Bobo, que é de 1980.
O poeta Carlos Pena Filho faleceu no mesmo 1º de julho em que Alceu
Valença completou 14 anos de idade. O ano era 1960 e Pena Filho morreu
precocemente, aos 31 anos. Consagrou-se no universo da canção através de
parceria justamente com o mestre Capiba. Pena Filho não chegou a ver as canções
de seus versos ganharem projeção pública. E sequer chegou a conhecer alguns dos seus versos em forma de canção.
Solibar
Versos de Carlos Pena Filho
Música de Alceu Valença
Seis dos pingos da goteira Batucando no passado E sei que as cinzas da fogueira não recomporão os galhos Dia sim e dia não Dói a minha solidão Eu tô ficando aperreado
São trinta copos de chopp São trinta homens sentados Trezentos desejos presos Trinta mil sonhos frustrados No bar 'Savoy' na Sertã No 'Luna' bar no Leblon Vejo a tristeza do gado
(Acima, à esquerda,
"Rosas Azuis", quadro da viúva Tânia Carneiro
Leão, baseado em "Soneto", de Carlos Pena Filho, poema
que diz: "Por seres bela e azul e improcedente/ é que sabes que a flor o
céu e os dias/são estados de espírito somente,/como o leste e o oeste, o norte
e o sul./ como a razão por que não renuncias/ao privilégio de ser bela e
azul". À direita, quadro "A mesma rosa amarela", de Tereza Costa
Rego, baseado no poema de mesmo nome)
A atualização da poesia musicada em textos de Carlos Pena Filho evidencia-se nessa gravação mais recente de "A mesma rosa amarela", que já fora gravada por inúmeros intérpretes, gente feito Maysa ou Nelson Gonçalves, por exemplo. O registro aqui encontra-se no primeiro disco de Junio Barreto, lançado em 2004, e foi incorporado à trilha do filme Deserto feliz, de 2007.
A mesma rosa amarela Versos de Carlos Pena Filho
Música de Capiba
Você tem quase tudo dela O mesmo perfume A mesma cor, a mesma rosa amarela Só não tem o meu amor Mas nestes dias de carnaval Você vai ser ela O mesmo perfume, a mesma cor A mesma rosa amarela Mas não sei o que será Quando chegar a lembrança dela E de você apenas restar A mesma rosa amarela A mesma rosa amarela
Legenda e imagens de “A mesma rosa amarela” e “Soneto” extraídas do portal vermelho: http://www.vermelho.org.br/noticia/142737-1
...porque elas chegam a mim e me tomam de assalto.
Não sou de reagir a assaltos. Muito menos desse tipo. Até mesmo porque, a experiência tem mostrado que os
desdobramentos dessas situações de escuta tendem a me convencer de que sigo por
um rumo certo. Não o único, claro, mas certo caminho. Certo no sentido de que a
canção passa de uma possibilidade de saber disponível, inerente na origem de
tudo, para uma condição cada vez mais pertinente e desejável de instrumento que
altera rotas, preenche vazios, revolve certezas e consolida convicções.
Por isso essa fala conduzida, conduzida consciente e que se faz e se quer crítica. Que faz dar o salto de ida, feito a língua que um almeja, e o de volta, feita a mulher do outro, que coincidem em mim, em um reconhecimento de paternidade/maternidade (ou seria fraternidade?) - dentre inumeráveis - que não há de se negar e que, por si, se justifica.
Não falo inglês nem francês; não falo bizantino nem hebraico. Falo esse canto que, no muito, é esperanto quase esperança, que não perde extensões de sua latitude, por ser uma fala que, aparentemente unívoca, abrange sem se querer totalista, porque inesgotável.
Aciono música, canções, e não penso numa existência que não seja assim, com cada um buscando sentido e autonomia para escolher o instrumento que lhe apetece. Canção também pode ter esse papel, esse significado.
Escolho música! E reagir a seus assaltos seria negar o que sempre esteve e que se afirmou como opção. Se assim fosse, com resistência, estaria a negar a própria natureza e a minha inserção nela, natureza.
Seria, assim, diga-se, uma etnia comum, na sola do pé descalço seu pigmento matriz. Chão.
Opto por música, por canções, como decisão particular que redimensiona o corpo, que o coloca no mundo. Abriga, assim, uma dupla função: a canção permite percorrer o lugar que povoo e que também é o lugar onde o outro habita. Daí que desponta sua dimensão coletiva. Sou uma isca cada vez mais fácil e, a cada escuta, mais exigente neste campo.
Exijo canções e música e texto e poesia e sou eu que decido o que fazer com eles e com elas e por eles e por elas.
Leio o mundo como um repertório que encontra na palavra, soprada por qualquer sopro, um vento vindo do itinerário do peito, do profundo mistério, um bom veículo.
Extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=lPGo171UliA)
Cabeça de nego
(João Bosco)
Cacurucai eu tô
Perrengando tô
De Aniceto é o jongo
Ô Donga Sinhô
O Sinhô Donga
É Gagabirô
Gagabirá
Ô zimba cubacubá
Ô zimba cubão
Zimba cubacubá
O zimbacu
Ô João da Bahiana!
Ô Candeia!
Ô Ya Quelé Mãe
Ô Mãe Quelé Mãe
Ya Quelé Mãe
Ô Clementina!
Ô Yaô Pi
Ô Piaô Xi
Yaó Xi
Ô Pixinguinha!
Ô Batista de Fá
Ô ária de Bach
Choro dePaulo da Viola!
Ô zimba cubá
Ô zimba cubão
Silas de Oliveira Assumpção!
Elifas Andreato retrata em tela a temática musical de Paulinho
Paulinho é de 42, mesmo ano de Gil, de Caetano, de outros tantos.
O pai de Paulinho, César, era violonista, tocava no Época de Ouro e chamava os amigos para tocar em casa.
O menino treinou seu ouvido ouvindo em sua casa o pai, Pixinguinha, Jacob e outros desse time de onças.
Mas o pai de Paulinho não queria o filho músico ("perguntou-me se eu queria estudar filosofia, medicina ou engenharia. Tinha eu que ser doutor").
Mesmo assim, o rapaz se envolveu de tal forma com a música e o samba que foi lá pra Jacarepaguá reunir gente e sambar, tocar cavacos e violões. Compor.
(extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=LgyhLaSog0g)
A voz do morto
(Caetano Veloso)
Estamos aqui no tablado
Feito de ouro e prata
E de filó de nylon
Eles querem salvar as glórias nacionais
As glórias nacionais, coitados
Ninguém me salva
Ninguém me engana
Eu sou alegre
Eu sou contente
Eu sou cigana
Eu sou terrível
Eu sou o samba
A voz do morto
Os pés do torto
O cais do porto
A vez do louco
A paz do mundo
Na Glória!
Eu canto com o mundo que roda
Eu e o Paulinho da Viola
Viva o Paulinho da Viola!
Eu canto com o mundo que roda
Mesmo do lado de fora
Mesmo que eu não cante agora
Ninguém me atende
Ninguém me chama
Mas ninguém me prende
Ninguém me engana
Eu sou valente
Eu sou o samba
A voz do morto
Atrás do muro
A vez de tudo
A paz do mundo
Na Glória!
Paulinho ficou amigo dos grandes que o ouviam e o queriam por perto.
Foi parar em Madureira. Foi como compositor.
Começou a fazer canções na primeira metade dos 60.
Estudou contabilidade e trabalhou em banco, onde reconheceu, certa vez, Hermínio Belo em sua agência bancária.
Ficaram amigos e parceiros.
Conheceu Cartola por esse tempo também.
Acompanhou muita gente boa no Zicartola, ao cavaco ou violão.
Foi tocando com Zé Keti que este lhe incentivou a cantar suas próprias músicas.
Foi também Zé Keti, junto com Sérgio Cabral, quem acrescentou a seu nome artístico o "da Viola". Ficou!
Juntou-se a Elton, Nelson Sargento, Nescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Zé da Cruz, Oscar Bigode (seu primo, que já o havia levado para a Portela, após Jacarepaguá).
Juntou-se, em morada, a Capinam, Gil, Caetano e mais outros tantos, quando foi pro Solar da Fossa, em 65
(Batatinha, um mestre do samba de Salvador. Extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=JXOth-JRoRs)
Ministro do samba
(Batatinha)
Eu que não tenho um violão
Faço samba na mão
Juro por Deus que não minto
Quero na minha mensagem prestar homenagem
E dizer tudo que sinto
Salve o Paulinho da Viola
Salve a turma de sua escola
Salve o samba em tempo de inspiração
O samba bem merecia
Ter ministério algum dia
Então seria ministro Paulo César Batista Faria (bis)
Paulinho canta, compõe, toca com elegância e simplicidade.
Impressiona que Paulinho tenha sido reverenciado não só pelos pares de sua mesma geração, posto sempre no patamar daqueles que o ensinaram na casa do pai, ainda pequeno.
Paulinho aparece contundente, indisfarçável, na homenagem feita por compositores reconhecidamente talentosos de outros nichos referenciais.
(Elza Soares, de Itamar, por Elza: Paulinho está aí.Extraído do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=VWG2dPI2GIY)
Elza Soares
(Itamar Assumpção)
Desde que me entendo por gente
Elza soares da vida
Das armas brancas, químicas quentes
Música é a preferida
Eu disse
Dar armas brancas, químicas, quentes
Música é a preferida
Desde que me entendo por gente
Eu sambo, eu faço o que gosto
My soul is black, meu sangue é quente
Eu quando gosto, me enrosco
Eu disse
My soul is black, meu sangue é quente
Eu quando gosto, me enrosco
Desde que me entendo por gente
Difíceis momentos tristes
Vivus vi veri vici noutros continentes
Eu sei que o amor resiste
Eu disse
Vivus vi veri vici noutros continentes
Eu sei que o amor resiste
Desde que me entendo por gente
Eu saquei que Jesus Cristo
Morreu na cruz por nós, inocentes
Pra provar que a vida é (*)
Desde que me entendo por gente
Carioca, carica, carnaval
Sol, futebol, mulher diferente
Mãe humanamente igual
Desde que me entendo por gente
Donga, Ataulpho, Cartola
Ari Barroso, Assis Valente
Mano Décio, Paulinho da Viola
([*] não foi possível decifrar o termo/palavra cantado por Elza, assim como não foram encontrados registros da letra original, nem na internet nem na própria Caixa Preta, em cujo encarte relativo ao CD que possui a música de Itamar não aparece o texto da canção na íntegra, tendo sido excluídas suas três últimas estrofes).
Paulinho é também cultuado pelas gerações que vieram na sequência do seu trabalho, assim como dos que vieram antes dele.
Não poderia ser de outro jeito.
Ele é um desses mediadores musicais sem brechas, que nos põe numa perspectiva muito mais longeva do que nosso tempo linear permitiria.
Que ecoa tanto em sua própria voz o turbilhão informativo de quem fez - e dele próprio como fazedor - quanto nas vozes dos que o ouvem e o dão ensejo, projetando por todo lado o reconhecimento de sua generosidade artística!