domingo, 27 de dezembro de 2015

Nelson Cavaquinho

(por Magno Córdova)


Nelson Cavaquinho não se notabilizou tocando o instrumento que lhe deu nome. Acompanhava-se tocando o violão de maneira muito peculiar: beliscava as cordas utilizando apenas o polegar e o indicador da mão direita. 

Nelson Antônio da Silva nasceu no bairro carioca de São Cristóvão, cidade do Rio de Janeiro, em 1910. Para o poeta Manuel Bandeira é de Nelson - em parceria com Guilherme de Brito e Alcides Caminha - um dos versos mais bonitos da música popular brasileira, que diz: “Tire o seu sorriso do caminho/que eu quero passar com a minha dor”. A música que leva esses versos é “A flor e o espinho”. Foi composta no ano de 1957 pelo sambista e seu parceiro mais constante: Guilherme de Brito. 


 
(Vídeo extraído do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=qY7g_uSgysE)

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
É no espelho que eu vejo a minha magoa
A minha dor e os meus olhos rasos d'água
Eu na sua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor

Eu só errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Que eu quero passar com a minha dor

Antes de iniciar a parceria com Guilherme em 1955, Nelson já havia passado pela polícia militar do Rio, na condição de membro do setor de cavalaria, e já havia se casado uma vez. Sua esposa chamava-se Alice, de quem se separou por se negar a deixar a vida boêmia. Inclusive, é da época que Nelson esteve na Polícia Militar uma das lendas que se conta a seu respeito: a ronda pelas ruas da cidade era feita com a montaria. O boêmio Nelson escolhia sempre os bares localizados na praça Tiradentes onde se encontravam os seus amigos, para fazer sua ronda. Chegando ao local, desmontava para tocar e beber até o dia seguinte. Dizem que bastava Nelson ser posto em condição de total embriaguez sobre seu cavalo, para o fiel companheiro o encaminhar, em trote sereno, para as dependências do quartel.

Em 1939, Nelson se casou pela segunda vez, com Neli, com quem teve quatro filhos. Foi dessa época seu encontro e aproximação com Zé da Zilda, Carlos Cachaça e Cartola. Só em 1952 é que o sambista se mudou para o morro de Mangueira. Nelson fez parte de uma geração de músicos que, a partir da década de 1960, saiu do anonimato para ter sua obra cantada por grandes intérpretes. 


(acima e abaixo, Nelson reunido a Candeia, Elton Medeiros e Guilherme de Brito, no contexto da gravação do disco 4 grandes do samba, de 1977.). 


Em fins da década de 1960, o compositor registrou um depoimento que se encontra incluído no acervo de música popular do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Naquela mesma época, foi lançado um filme curta metragem com direção de Leon Hirzman sob o título “Nelson Cavaquinho”.

Nelson faleceu em 1986, de enfisema pulmonar.

(documentário Nelson Cavaquinho, de Leon Hirszman - Extraído do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=6VTH_T00gnY )

Para saber mais sobre o compositor: “Nelson cavaquinho - Enxugue os olhos e me dê um abraço”, de Flávio Moreira da Costa. Publicado pela Relume Dumará, no ano de 2000.

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